Reencontros inteletuais
julmar, 26.04.22
Há dois anos, li um livro grande (um grande livro, também) deste autor - "A Decadência - O declínio do Ocidente". Autos-de-fé" é um pequeno livro que percorre muitas ideias do século XIX e XX que mais do que na universidade fui entranhando por conta própria e algumas das quais achei que seriam o lugar da verdade, no tempo que pensei que pudesse existir um tal lugar. Foi-me muito grato encontrar neste pequeno livro autores, textos, ideias que viveram em mim desde o maoísmo (sim, também li 'O Pequeno Livro Vermelho' de Mao), O Arquipélago Gulag (lido recentemente), o marxismo leninismo (sim, como Sartre cheguei a considerar o marxismo a filosofia inultrapassável do nosso tempo), o 'Choque das Civilizações, de Samuel Huntington e O Livro Negro da Psicanálise.
E o exercício sobre eles é o que Onfray nos propõe:
"Autos-de-fé propõe um exercício prático: ver como livros essenciais para estabelecer a verdade foram torpedeados para evitar que as suas mensagens, verdadeiras, não chegassem ao seu destino.
Pelos seus danos? Pela sua perigosidade? Pela sua toxicidade? Pela sua ameaça? Foram muitos os livros que se propuseram destruir as mitologias do momento.
Mas é sabido: o primeiro a dizer a verdade tem de ser executado.
Autos-de-fé é um livro que chama os bois pelos nomes: contra o decolonialismo, o neofeminismo, o racialismo, a teoria do género, o comunitarismo, que estão a formar um verdadeiro neofascismo de esquerda, com a cumplicidade activa de muitos intelectuais e universitários.
E, a propósito do Arquipélago Gulag:
"E os detidos são culpados de quê? É necessário esquecer essa ideia de que no regime marxista-leninista uma detenção obedece a uma razão clara, definida! É por causa de tudo e de nada, de uma outra coisa, não importa o quê. Uma bagatela, uma suspeita, uma denúncia, o arbítrio. Trata-se, para o poder, de governar com o terror: o indivíduo que nada tem para se censurar, deve censurar-se por não ter nada de que se censurar. Essa é a grande lição de 1793. Os poderosos bolcheviques querem que os miseráveis do povo tenham medo e tremam sem cessar para que se torne zelosos, obedientes, dóceis, submissos, disciplinados, dominados. A coberta do comunismo e da felicidade dos povos, O regime fabrica escravos em quantidade industrial." Página 56