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Badameco

Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

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Planta Sapiens - Talvez a inteligência seja só uma

Avatar do autor julmar, 01.06.23

 Livro «Planta Sapiens », de Paco Calvo, Natalie Lawrence na livraria online da Presença. Desconto em todos os livros

Hortênsio é o meu mais velho amigo, tão velho que não tenho memória de não ser assim. Lembro-me dele numa manhã soalheira do mês de abril, pelo ano de 1955, no lugar das Entrevinhas, de olhar interrogativo a perguntar-se por que estaria a chorar uma vide que não parava de deitar lágrimas pela extremidade cortada. Nunca mais parou de se interrogar sobre o mundo vegetal e, ainda há dias, dei com ele a contemplar as gavinhas do xuxu, dos feijoeiros e dos pepineiros que, quais braços no ar, vão procurando onde se agarrar. Sem olhos acabam sempre por encontrar um apoio. Sem o seu deslumbramento pela natureza, pela inqietude de não saber, talvez nunca me interessase pela ciência e filosofia. Foi isso, que me levou a comprar o presente livro que, mal comecei a ler, despertou em mim todo esse passado ligado às plantas e às leituras, nomeadamente, de C. Darwin que o autor cita na pg 19:

O trabalho começa nas nossas mentes. Uma das mais poderosas ferramentas que Charles Darwin utilizou ao desenvolver a teoria da evolução pela seleção natural não foi um instrumento científico nem um qualquer espécime. Foi o movimento do seu corpo pelo espaço. Todos os dias, uma vez pela manhã e outra à tarde dava uma caminhada pelo Sand Walk, um trilho de gravilha que contornava a sua casa em Downe. Designava-o como “caminho do pensamento “. À chuva, ao sol ou debaixo da neve, Darwin refletia nas suas leituras, correspondência e experiências na companhia das plantas e dos animais que passavam por si. Foi um dos pensadores que utilizou o poder do movimento físico para fazer avançar a mente e ajudar ao desenvolvimento das ideias”.

Encontar uma passagem assim, foi como se  encontrasse uma justificação , para o meu ritual diário. Enquanto lia este livro ia entremeando com um outro "O que nos torna humanos", um livro diferente de todos os que já li, em que os autores (Thomas, Isain e Wang, Jasmine) colocam questões essenciais que o homem se coloca ao Chat GPT. Isso levou-me ao contemporâneo filósofo PierreTheiard Chardin (proibido pela Igreja de publicar os seus escritos por defender o evolucionismo) em que defendia que os difrentes estados evolutivos do cosmos terminariam na noosfera - um conceito que traduzia um cosmos inteligente. Ora, isto levou-me aos primeiros filósofos gregos que procuravam o elemento primordial de que todas ascoisas eram feitas (arquê), e ao filósofo Anaxágoras (499-428 a.C.) que defendia que as “sementes” de todas as coisas foram ordenadas por um princípio inteligente, uma Inteligência Cósmica (nous) que fornece as leis do pensamento  para conhecer e governar o universo.

Então, talvez, a camada profunda da psique, como afirmava C.G. Jung, não seja (ou não seja só) o Inconsciente Coletivo apenas da humanidade mas do cosmos. E, talvez, a videira que chorava não seja uma metáfora. E, se assim for, talvez, a inteligência artificial que, como a humana, não existe sem matéria, sejam feita do mesmo.