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Badameco

Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

Badameco

Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

Os meus amigos não morrem

Avatar do autor julmar, 09.07.22

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O Badameco, eu próprio, ao contrário de muitos que são filhos de pai incógnito, não sei quem é a minha mãe. Sei quem é o meu pai e sei que sou irmão de um outro blog que dá pelo nome Vilar Maior, minha terra minha gente. Sinto algum pudor em falar de mim por não poder fazê-lo sem falar do meu pai e do meu irmão.  Já me conformei com o fato de, tendo a mesma idade do meu irmão, meu pai lhe dedicar mais tempo e de ter por ele maior afeição. Apesar de irmãos somos muito diferentes e cada um sente-se bem naquilo que é. O meu irmão tem como que um direito natural pois nele se expressa o sítio onde nasceu, o chão que pisou, a família onde cresceu, as gerações que se sucederam, o lugar e a casa onde sempre volta e onde repousará quando já não houver mais volta a dar; ali tem lugar para a sua terra e para a sua gente; ali se busca nos cantos e recantos, no sol e na lua, nas variações da natureza, no coachar das rãs, no pasmo do céu estelado, na espera do que cada estação trás: o frio ou o calor, o cair da folha e os frutos maduros, o renascer quando chega a primavera, os encontros com a minha gente; nele se expressa o passado da gente e a esperança, tão ameaçada, de que  a minha terra perdure, com outra gente que continuará a ser minha. 

Em mim, Badameco, se expressa muito daquilo que não tem lugar nem tempo, ou que tendo um e outro, os despe da sua concretude para ver se lhe descobre a razão. Diria, numa linha platónica, que não fica pelas coisas belas, verdadeiras ou boas, mas pretende - e sabe que é em vão - saber da beleza, da verdade e do bem. 

Tudo isto por causa do meu amigo Alberto que morreu, mal o ano 2022 estava a começar. Ora esta coisa dos que morrem é mais uma questão do meu irmão - Vilar Maior, minha terra minha gente - e estranhei que se estivesse expressando em mim. O meu irmão com o requiescat in pace faz sempre o respetivo panegírico e sendo que a morte - ao contrário do nascimento - é inevitável, quase parece  um liber mortuorum (livro dos mortos). Espero que o meu irmão não considere isto um desprestígio. Antes pelo contrário, pois, os mortos enquanto forem lembrados continuarão connosco. Ora, o amigo Alberto que pisou breve o chão da minha terra, é um poeta que empreendeu na mesma busca do que expresso.

Eu, Badameco, fiquei feliz, porque soube que a frase, debaixo do teu retrato, ajudará a que continues connosco.

"E na tentativa de esgotar a vida até ao âmago, tornou-se poeta e ator, para que na palavra e no gesto a vida toda se realizasse"