Oh as casas as casas as casas - poema de Ruy Belo
julmar, 21.02.18
(Primeiro esboço) Oh as casas as casas as casas as casas nascem vivem e morrem Enquanto vivas distinguem-se umas das outras distinguem-se designadamente pelo cheiro variam até de sala pra sala As casas que eu fazia em pequeno onde estarei eu hoje em pequeno? Onde estarei aliás eu dos versos daqui a pouco? Terei eu casa onde reter tudo isto ou serei sempre somente esta instabilidade? As casas essas parecem estáveis mas são tão frágeis as pobres casas Oh as casas as casas as casas mudas testemunhas da vida elas morrem não só ao ser demolidas Elas morrem com a morte das pessoas As casas de fora olham-nos pelas janelas Não sabem nada de casas os construtores os senhorios os procuradores Os ricos vivem nos seus palácios mas a casa dos pobres é todo o mundo os pobres sim têm o conhecimento das casas os pobres esses conhecem tudo Eu amei as casas os recantos das casas Visitei casas apalpei casas Só as casas explicam que exista uma palavra como intimidade Sem casas não haveria ruas as ruas onde passamos pelos outros mas passamos principalmente por nós Na casa nasci e hei-de morrer na casa sofri convivi amei na casa atravessei as estações Respirei – ó vida simples problema de respiração Oh as casas as casas as casas |