O que a pandemia nos ensina e o que não queremos aprender
julmar, 30.05.20
A normalidade é uma construção que os homens fazem através do estabelecimento de rotinas que leva a que se façam sempre as mesmas coisas da mesma maneira, no mesmo tempo e pelos mesmos sujeitos. O exército, as igrejas, as fábricas, as escolas implementaram as suas rotinas o que lhes assegura a ordem e a previsibilidade. E todos ficam muito contentes que assim seja e todos estabeleceram penalizações para os que colocassem em causa as rotinas que asseguram a normalidade. O problema da normalidade é que exige que todos ajam, sintam e pensem da mesma maneira o que conduz a uma cegueira enorme. Como aquilo que dá segurança ao indivíduo e à sociedade é a experiência do que se passou, subjugam o futuro ao passado mesmo quando asmudanças exigiriam novas modalidades. Por isso, a normalidade que foi racional tende com o tempo para a irracionalidade. Por exemplo, achamos normal comprar coisas que não precisamos, comermos coisas que nos fazem mal, deslocarmo-nos diariamente para o local detrabalho num carro de 100 ou 200 cavalos para andar a uma média de 30 ou 40 Kms/h, entrar às 9 horas e sair às 17 horas mesmo que o tempo efetivo de trabalho tenha sido apenas 1 hora. Ou que 80 ou 90% das consultas médicas poderiam ser feitas por video-conferência. Claro que tudo isto tem uma liturgia. Porém, há que reinventar outras liturgias separadas da produção
Ninguém está disposto a aprender. A palavra de ordem é voltar à normaliade, ou à nova normalidade, ou à normalidade possível. A aposta deveria ser trabalhar um terço e produzir o triplo. E isso é possível. Quando a pandemia chegar as fábricas continuarão a produzir, os alunos continuarão a apender, os padres continuarão a rezar. Mas todos poderão usufruir de mais ócio, dedicar-se à filosofia, à autoformação, ao conhecimento de si e das suas possibilidades, à arte e à educação do gosto.