Marranos, maçónicos e comunistas em Vilar Maior
julmar, 14.02.15
No tempo em que quase todas as famílias matavam um marrano, até `diáspora das décadas de 60 e 70 do século passado, havia na mentalidade comum da vila uma forte reprovação, anátema mesmo, sobre os judeus por terem matado Cristo, sobre os maçónicos que aqui terão chegado com as ideias liberais da Revolução Francesa, e, por último, os comunistas.
Os judeus tornaram-se os bodes expiatórios - todas as religiões têm os seus bodes expiatórios - de todos os males que a humanidade sofria, tudo culpa dos judeus. Aqui na vila, onde existiu uma comunidade - tinha mesmo um lugar de culto - originada da chegada de judeus expulsos de Espanha, corría o final do século XVI. Se não chovia a culpa era dos judeus, se havia inundações a culpa era dos judeus, se graçava doença, se as colheitas mingavam, se o gado morria ... era culpa dos judeus. Se alguém cometia um ato bárbaro, era uma judiaria. Depois dos reis católicos de Espanha, também o nosso rei D. Manuel ordenou que todo o judeu que não se convertesse ao cristianismo lhe fossem confiscados os bens e fosse expulso. A Inquisição encarregou-se de avaliar a sinceridade dos novos conversos - os marranos - e de vigiar os seus hábitos, nomeadamente se se continuavam a abster de carne de porco. Ora os católicos consideravam esta gente tão suja que os designava como marranos. Por isso, o porco aqui não era porco mas marrano. Se alguém não cumpria os preceitos da Igreja, se alguém não cumpria com obrigações ou se, simplesmente, fazia um trabalho mal feito (uma marranada), era vituperado como marrano. Naturalmente, porque aqui viveram e se multiplicaram, muitos de nós seremos descendentes de marranos. Ao contrário da maçonaria e do comunismo, o marranismo foi experienciado, vivido e praticado aqui. O Estado Novo, em aliança com a Igreja católica, tomaram como missão combater o comunismo e os comunistas, sendo que bastava não participar nas cerimónias da Igreja, ou não estar de acordo com o regime para que fosse apontado como comunista - uma espécie diabólica. Mas Aparições de Fátima, um pedido da senhora era rezar pela conversão da Rússia.A reza diária do terço, havia uma oração pela conversão da Rússia. Tiveram êxito as orações? Bom, a Rússia não se converteu, porém, já não é comunista.