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Badameco

Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

Badameco

Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

Ler para mudar

Avatar do autor julmar, 02.11.22

Se os livros que lemos não nos mudam, não vale a pena lê-los. Podemos passar uma vida, ou  grande parte dela, a aceitar ou defender ideias que nos parecem racionais e justas. Muitas das vezes são ideias que nos convêm e parecem justificar o que fizémos ou fazemos das nossas vidas. Se o elevador social funcionou para nós é natural que, por auto-estima, nós defendamos que isso se deve ao nosso esforço, à nossa atitude e ao modo como encaramos a vida. De um ponto de vista pessoal faz todo o sentido. Nunca nos meus ascendentes alguém tinha entrado na universidade, nunca alguém tinha tirado uma licenciatura. Vivi as circunstâncias dos colegas de infância e de escola primária e também dos meus sete irmãos. A minha pré-escola foi guardar cabras e ajudar nos trabalhos do campo. Entrado na escola, cada dia, antes de começar e depois de terminar, tinha de ajudar em casa e no campo. Sei quanto custou subir e sinto orgulho por isso. Mas orgulho não é vaidade. Aprendi a pedir ajuda e a ser reconhecido, aprendi o valor do trabalho, aprendi a ser corajoso, perseverante e humilde.  Aprendi a ter sorte. Aprendi a suprir a necessidade e a ganhar tempo para a liberdade para chegar aqui e a este momento em que reflito sobre o que estou a dizer, depois de ler o livro de Sandel, mais um filósofo que se junta a todos os outros que me instruiram. 

Uma coisa é o que fizemos de nós, outra coisa é o que queremos fazer da sociedade, uma coisa é olharmos para o nosso quintal, outra coisa é olharmos para o mundo em que vivemos. Esse descentramento e essa supreação é o que nos pode levar à compreensão da sociedade e colocar como valor superior o bem comum em detrimento da tirania do mérito que justifica desigualdade acelerada e exponenciada, à arrogância de uma crescente minoria e à humilhação e ressentimento de uma crescente maioria de pessoas. Eis o que corrói a sociedade e abre a porta ao populismo. 

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