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Badameco

Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

Badameco

Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

Leitura breve sobre assunto longo

Avatar do autor julmar, 08.09.20

Trump | Snob

"Bolsonaro quer esmagar um comunismo inexistente? Que lhe barre o caminho, assim como a todos os percursores do velho mundo, um novo comunismo, desta vez bem real"

Depois de uma difícil e vagarosa leitura de Alain Badiou - S. Paulo - A fundação do universalismo -, uma obra de filosofia pura e dura procurando a instauração de uma nova metafísica assente no acontecimento da proclamação da Ressurreição de Cristo, li, de uma assentada (no sentido literal), esta pequenina obra de análise política sobre a situação mundial tendo por fundo a eleição de Trump. 

A minha geração, à parte a filosofia escolástica que foi a minha formação de base, teve como pano de fundo da interpretação da natureza e da sociedade a filosofia marxista, cuja importância é relevada por Sartre : "O marxismo é a filosofia inultrapassável do nosso tempo". A partir de 1980 vários acontecimentos deram início ao fim "do nosso tempo" que teve como marco simbólico a queda do Muro de Berlim em 1989. Depressa o capitalismo, sem o travão do socialismo, acelerou e tomou conta de todo o planeta. Os inteletuais educados numa visão marxista do mundo rapidamente fizeram o seu agiornamento e o capitalismo passou a constituir o único horizonte da humanidade, não que seja um bom sistema, que resolva os problemas da humanidade mas tão só porque é o único possível, não há outra solução. 

"Portanto, parece necessário, para compreender tudo isto, tomar quatro termos em consideração. Recaapítulo aquilo que chamo de crise atual:

1- A brutalidade a violência cega do capitalismo como temporário, que é um regresso à brutalidade e à violência cega do capitalismo do século XIX. Releiam Dickens! Voltámos, com novas novas formas, à época de Dickens

2 - A decomposição da classe política, coloca-nos diante da possibilidade de um novo fascismo. É uma perspetiva sombria.

3- A frustração popular perante tudo isto, o sentimento de uma desordem obscura, a convicção de que não existe uma orientação aceitável no mundo e de que é, seja como for, impossível continuar assim. Poder-se-ia dizer, parodiando o fim de um célebre livro de Samuel Beckett: o capitalismo não pode continuar, ele deve continuar, ele vai continuar.

4 - Por fim, a ausência de qualquer outra via estratégica.Segundo uma formalização aritmética, podemos dizer que no conjunto temos a passagem de duas vias estratégicas, o capitalismo e comunismo, a uma só, o capitalismo global enquanto única via estratégica, e que na política passamos de duas a quatro mas entre estas quatro, existem desigualdades, e, de momento, a força maior encontras-se do lado direito. Ameaça-nos a possibilidade de uma nova forma de fascismo, coma ausência, a terrível ausência de qualquer coisa do outro lado"

E o preenchimento dessa ausência será o regresso, não daquilo que foi a realização do comunismo mas da Ideia que lhe presidiu, contrapondo, assim, à afirmação da desigualdade identidade a ideia de Igualdade e universalidade.