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Badameco

Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

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Fábricas de terroristas

Avatar do autor julmar, 16.11.15

A leitura é a forma que encontramos de fugir à vulgaridade da palavra: A palavra escrita tem um modo diferente de dizer, tem um tempo diferente para ser compreendida. A palavra escrita resulta de um esforço de especulação, de organização e de selecão. Quer sempre o escrevente dar-nos o melhor fruto do seu trabalho. E, deste modo, conseguimos conversar com os melhores recolhendo o melhor do seu saber e da sua experiência. 

Das múltiplas crónicas, a maior parte sobre a África e Angola, em particular, pelo momento que vivemos, chamou-nos especialmente a atenção a crónica: FÁBRICA DE TERRORISTAS

Lembrando-nos o autor o espantoso romance, An Act of Terror, do grande escritor sul-africano André  Brink em que se conta a história de um jovem, de origem bóer e como esse jovem ganha consciência política e se comprommete na luta contra o apartheid vigente na África do Sul. Vê os seus amigos abatidos, um a um, pelos serviços secretos e acba por cometer um atentado, considerado um ato terrorista. Parece depreender-se do romance que a sociedade e o Estado criavam as condições para que as pessoas, impotentes para mudarem as condições de existência, cometessem atos desesperados. 

Há muitas vezes, a tentação imediata, sobretudo no rescaldo de situações tão bárbaras como a últma que aconteceu em Paris, de muitos acharem que quem tenta analisar e compreender estes fenómenos, está a aceitar tais atos. Certo é que, ao agir de forma irracional o fenómeno só tenderá a agravar-se.

«... Mas entendo as razões que levam pessoas a cometerem esses atos enlouquecidos de terror. E os donos da fábrica, felizes com o resultado da sua iniciativa, mas  de ar compungido, apontam depois o dedo, vejam, são terroristas, põem bombas em autocarros, deixam-se explodir à frente de restaurantes. Sim é uma forma errada de lutar contra a injustiça e a opressão. Mas quem os leva a isso?»

Quem acabou com a autoridade do Estado em zonas do Norte de África e Médio-Oriente, a troco de quê? Não é só a Natureza que tem horror ao vazio, a Sociedade também.

«DE vez em quando o terrorismo ataca no quintal da fábrica e é um vendaval de lamentos, ameaças furiosas, bombardeamentos de retaliação, criação de alianças espúrias. Curiosamente, os donos das fábricas de terroristas não movem umde do contra as ditaduras medievais da Aràbia Saudita, do Bahren ou do Qatar. Por também serem fábricas de terroristas? Os semelhantes reconhecem-se e protegem-se, é conhecido. E nós temos de aguentar com as imagens de destruições de um lado e do outro e com a selvajaria dos Actos de Terror».