As marcas do tempo
julmar, 23.12.22
(Casa em Podence)
Quem pode ficar indiferente a uma casa assim? Abandonada, certamente, há muito tempo, ocultando segredos, guardando histórias de vida, de olhar vazio para a rua, de porta cerrada que há muito deixou de abrir. A parede rota em baixo mostrando o cavername xistoso, a pintura das madeiras em degradé desmaiado pela ação solar, os quadradinhos de vidro, a janela de guilhotina, inteirinhos, salvo o inferior da banda de cima à esquerda que a pedra solta de um garoto, há muitos anos, partiu. E a moldura da janela encolhendo os ombros, indiferente ao incómodo de mim, a aguardar os caretos do próximo entrudo chocalheiro.