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Badameco

Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

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Aranhas

Avatar do autor julmar, 08.12.24

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A melhor das metáforas que utiliza a aranha e o seu trabalho é de Francis Bacon que compara o tabalho do investigador com o trabalho da abelha, em contraposição ao trabalho da formiga e da aranha. Na verdade, qualquer um dos trabalhos, dos citados bichos, é admirável. No entanto, por mor dos meus passeios matinais, antes do nascer do sol, deparo com belíssimas teias que se não serve de modelo aos filósofos, poderá inspirar os artistas. Hoje, numa leitura que cita Santo Agostinho, também ele aparece a utlilizar o trabalho da aranha, para depreciar o trabalho do investigador:

"É para satisfazer esta curiosidade pouco saudável que ...os homens são levados a indagar acerca dos sgredos da natureza, que são irrelevantes para s nossas vidas." Santo Agostinho Confissões, X.35.

Pedi à minha amiga Júli@ - tão amável, tão pronta, tão eficiente e paciente e, já agora tão inteligente - que me desse uma lista de filósofos que tenham usado o trabalho da ranha como metáfora. E, disse-me assim:

1. Aristóteles

  • Metáfora: Aristóteles descreveu a aranha no contexto da sua abordagem sobre o movimento e a vida animal.
  • Síntese: No De Partibus Animalium, ele considerou a aranha um exemplo de artesão natural, destacando a sua habilidade em criar redes como um instinto inato, demonstrando como a natureza é capaz de produzir obras de arte de forma instintiva.

2. Francis Bacon

  • Metáfora: Comparou a aranha ao conhecimento especulativo no Novum Organum (1620).
  • Síntese: Bacon criticava os pensadores que, como as aranhas, criam suas teorias a partir de si mesmos, sem recorrer à experiência ou à observação externa. Ele propôs que o método científico deveria equilibrar a teorização e a coleta de dados experimentais, ao contrário do pensamento "teia-de-aranha".

3. René Descartes

  • Metáfora: A aranha como símbolo do controle centralizado.
  • Síntese: Em seus escritos sobre fisiologia, Descartes descreveu como a aranha sente vibrações em sua teia, comparando isso ao sistema nervoso humano, com o cérebro agindo como um ponto central de comando.

4. Karl Marx

  • Metáfora: Comparou o trabalho da aranha ao do arquiteto.
  • Síntese: No O Capital, Marx argumenta que, enquanto a aranha cria sua teia instintivamente, o arquiteto concebe mentalmente o que deseja construir antes de agir. Essa metáfora foi usada para ilustrar a distinção entre o trabalho humano consciente e o trabalho animal instintivo.

5. Jorge Luis Borges

  • Metáfora: A aranha como símbolo do criador universal.
  • Síntese: Borges frequentemente usava a aranha em suas obras para explorar temas como o labirinto, o infinito e a criação artística. Em poemas como "Aranha", ele reflete sobre a solidão e o poder criativo do ser humano, simbolizado pela aranha tecendo sua teia.

6. Friedrich Nietzsche

  • Metáfora: A aranha como símbolo de ressentimento e autopiedade.
  • Síntese: Em Genealogia da Moral, Nietzsche critica os indivíduos que, como aranhas, acumulam ressentimentos e criam redes de moralidade e valores reativos, presos a sua própria incapacidade de criar algo novo.

7. Martin Heidegger

  • Metáfora: A aranha como exemplo de interação com o mundo.
  • Síntese: Heidegger menciona a aranha no contexto de sua teoria do Ser e da ferramenta, sugerindo que a teia reflete a forma como os seres interagem e se conectam ao mundo ao seu redor, exemplificando o conceito de Dasein.

8. Gilles Deleuze e Félix Guattari

  • Metáfora: A teia como rizoma ou conectividade.
  • Síntese: Em Mil Platôs, usaram a teia da aranha como contraste ao rizoma, que se desenvolve de maneira não hierárquica e não linear, diferentemente da estrutura centralizada da aranha.
E por que sabia que Espinosa também a tinha uliizado lhe perguntei se  também se às aranhas.

Sim, Espinosa também faz referência às aranhas em seus escritos, particularmente em uma metáfora que aparece em suas Cartas. Ele compara o comportamento humano em relação às paixões à maneira como as aranhas se enredam em suas próprias teias.Metáfora em Espinosa

  • Fonte: Correspondência com Oldenburg (em uma das cartas).
  • Contexto: Espinosa argumenta que muitos seres humanos são como aranhas que, ao criarem suas teias, acabam ficando presas nelas. Da mesma forma, os homens criam ideias, desejos e paixões que se voltam contra eles, aprisionando-os.
  • Interpretação: Essa metáfora reflete sua visão sobre a condição humana e as paixões. Ele sugere que a liberdade humana reside em superar essa "prisão" emocional e intelectual por meio do conhecimento racional e da compreensão das leis da natureza, evitando a escravidão às paixões.
No caso de F. Bacon é possível apresentar um excerto em que na construção do conhecimento apresenta a abelha, a formiga e a aranha?

Sim, Francis Bacon faz essa famosa comparação no Novum Organum (1620), ao discutir diferentes abordagens para a construção do conhecimento humano. Ele apresenta a aranha, a formiga e a abelha como metáforas para três tipos de intelecto e métodos. Eis o excerto relevante:

“Os homens de ciência têm seus métodos característicos: os que seguem o método das formigas apenas recolhem e utilizam; os que seguem o método das aranhas criam teias a partir de si mesmos; mas o método da abelha é o melhor, pois ela extrai matéria das flores do campo e do jardim, e a transforma e digere por uma virtude própria. Nem a experiência isolada, nem a especulação abstrata, mas uma mistura das duas é o caminho verdadeiro.” (Novum Organum, Livro I, Aforismo XCV).

Interpretação:

  1. Formiga: Representa aqueles que coletam dados e fatos (empirismo puro), mas não os transformam em conhecimento mais profundo.
  2. Aranha: Simboliza os que, como racionalistas extremos, criam teorias apenas a partir da mente, sem base empírica.
  3. Abelha: Combina coleta de dados do mundo (como a formiga) e síntese criativa (como a aranha), representando o ideal científico de Bacon.

Bacon defende o método científico experimental, que une observação prática e raciocínio lógico, como o trabalho produtivo da abelha. Este excerto ilustra sua crítica aos extremos do empirismo e do racionalismo.