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Badameco

Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

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Aprendizes de filosofia

Avatar do autor julmar, 30.05.16

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 A arrumar papéis vou encontrando algumas relíquias. Como este livro feito pelos meus alunos. Eu apenas escrevi o prólogo e a introdução a cada temática. Aí reencontrei a minha alma de professor de filosofia.

Prólogo

Hesitámos na escolha do termo prólogo, pois que outros - prefácio, preâmbulo, prelúdio - se apresentavam capazes de cumprir a função. Optámos por este por nele se conter um significado essencial ao filosofar - o logos que nos obriga a encontrar as razões a favor dos discursos que se seguem.

A filosofia depois de Sócrates, na academia de Platão, no liceu de Aristóteles, nas universidades medievais, modernas e contemporâneas tornou-se discurso escrito que, na solidão de quem escreve e de quem lê, permite a reflexão elaborada que ia fluência do falar não consegue. Mais do que na fala é na escrita que experimentamos a dificuldade em nos exprimirmos com rigor e clareza e nos descobrimos no nosso (não) saber. Quem aprende filosofia tem de passar, necessariamente, de uma forma consciente, por essa experiência. Experiência difícil nos tempos que correm pouco propícios à experiência do filosofar, dada a falta de vagar, a procura do espetacular e de distração incessante, da extensão do fast e do pronto a consumir, a todos os momentos da vida, das incontáveis solicitações exteriores, das novidades que, de tantas, já nenhuma nos provoca!. Por outro lado, os vícios adquiridos ao longo dos nove anos de vida escolar criam uma má disposição para a filosofia.

Porém, quando se têm jovens como os que fazem o presente trabalho é possível minimizar e ultrapassar as referidas dificuldades e ensaiar passos na aprendizagem do filosofar. Cada um, de acordo com os seus interesses e capacidades, com diferentes graus de envolvimento e de desempenho, como é natural. A esperança de um professor de filosofia é que todos aprendam a pensar melhor, a pensar diferente, de que encontrem uma estrada, um caminho ou uma simples vereda que os conduza, mais do que  ao conhecimento do mundo e dos outros, à descoberta de si mesmos. Como Platão nos ensinou (e nos continua a ensinar), aos aprendizes não lhe podemos dar os olhos mas podemos orientar-lhes o olhar: para ficarem confundidos, primeiro; para verem claro, depois. Talvez que alguns não cheguem a sair das trevas; talvez que outros, sentindo-se confusos, prefiram retornar à segurança que a ignorância proporciona; seguramente que alguns descobriram a luz, a sua luz.

 Partimos para este trabalho como uma necessidade de materializar na escrita alguns percursos, algumas ideias. Não é por se ter aprendido bem na catequese que se é um bom cristão; também não se é bom filósofo por se terem aprendido todos os conceitos. Por isso, lemos para aprender, escrevemos para aprender, ainda e sempre, na tentativa de nos experienciarmos a filosofar. Cada um saberá em que medida o conseguiu.

E tinha de haver, semprem uma aula Peripatética

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