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Badameco

Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

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Andar, passo a passo

Avatar do autor julmar, 15.05.21

Há textos, há livros que só os pode entender quem teve experiências semelhantes a quem os escreveu. Quem não andou a pé, quem não calcorreou  os trilhos da natureza, quem não vê com frequência o  nascer do sol, quem não experimenta a chuva, o vento, o gelo, quem não se perde na natureza nunca poderá saborear estes livros. Andar a pé é a condição da descoberta da nossa humanidade. Humanidade iniciada, incluindo a de cada um de nós, com a passagem da quadripedia à bipedia.

«Sobretudo, não podemos dar-nos ao luxo de não viver no presente. Entre todos os mortais, abençoado o que não perde um segundo a relembrar o passado. É anacrónica a filosofia que não nos manda escutar o cantar do galo nos celeiros próximos. Esse som relembra-nos normalmente que estamos a enferrujar e a ficar antiquados nas nossas ocupações e nos nossos hábitos de pensamento. Já a filosofia desse bendito ser humano se resume a um tempo mais moderno do que o nosso. Há algo diferente nela, é um testamento mais novo- o evangelho segundo o momento presente. Não ficou na retaguarda; levantou-se cedo e começou cedo o dia e estar um de ele está é viver plenamente, nas primeiras fileiras do tempo. É expressão do carácter saudável e da pujança da natureza, uma vanglória para o mundo - a salubridade de um regato que corre, uma fonte de musas, e que celebra o instante que passa. Onde reside este carácter sadio não se aprovam leis que condenam escravos fugitivos. Quem não traiu o seu mestre muitas vezes depois de ouvir cantar o galo? O mérito deste canto reside em ser alheio a todo o queixo. O cantor pode facilmente comover-nos às lágrimas ou fazer no rir, mas quem é capaz de despertar em nós a pura alegria do amanhecer?» pg 72