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Badameco

Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

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A vida é um jogo

Avatar do autor julmar, 13.06.17

a cigarra filosófica.jpg

Andava carecido de uma boa leitura filosófica. Chegou.

Um livro excelente que nos reconduz à ironia e maieutica socrática. Além do método, o tema, é socrático também, eminentemente filosófico, pois, trata de investigar o que é uma vida boa e como se deve agir para a atingir. Porém, algo nos separa do tempo socrático, a saber, o desenvolvimento tecnológio que nos permite sonhar com um tempo em que o homem, todos os homens não tenham que se preocupar com o que hão-de comer ou vestir, nem sequer com a ciência ou com o sexo, pois estaremos na sociedade da Utopia, um estado de coisas em que as pessoas se dedicam apenas àquelas atividades que valorizam intrinsecamente. Portanto, são eliminadas todas as atividades instrumentais, todas as coisas que se costumam designar como 'trabalho' que passam a ser feitas por máquinas totalmente automatizadas, substituindo uma sociedade de escassez por uma sociedade de abundância.. No entanto, uma sociedade assim, não deixará de ter os seus inimigos.

«Os Diligentes e os Sabujos chegaram à conclusão de que se as suas vidas eram meros jogos, então essas vidas dificilmente seriam dignas de ser vividas. Assim otivados, começaram a forçar em si próprios a crença de que as casas feitaspor pessoas eram mais valiosas do que as casas feitas por computadores, e que os problemas científicos há muito resolvidos precisavam de solução. Começaram então a persuadir outros da verdade destas opiniões e foram mesmo ao ponto de representar os computadores como inimigos da humanidade. Por fim, aprovaram legislação que bania o seu uso. Mais tempo passou então, e a todos parecia que o jogo da carpintaria e o jogo da ciência não eram de todo jogos, mas tarefas crucialmente necessárias que tinham de ser realizadas para que a Humanidade sobrevivesse. Assim, embora todasas actividades humanas aparentemente produtivas fossem jogos, não se acreditava que fossem jogos. Os jogos foram mais uma vez relegados para o papel de meros pasatempos, úteis para preencher lacunas nas nossas actividades sérias. (...) 'Vem agora, Cigarra, sabes muito bemque a maioria das pessoas não quererá passar as suas vidas a jogar jogos. A vida para a maioria das pessoas não será digna de ser vivida se não puderem acreditar que fazem algo útil, seja sustentando as famílias ou formulando uma teoria da relatividade'».