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Badameco

Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

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A última lição

Avatar do autor julmar, 05.12.20

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Por vezes , as maiores lições, dadas ou recebidas, são as que não foram preparadas, muitas vezes, nem nos demos conta delas. São coisas que nem saberíamos como as ensinar pelo simples fato de não ser ensináveis embora possam ser aprendidas. E, no entanto, são as coisas mais importantes da vida e da morte: o amor, a ternura, a gratidão, a compaixão, a coragem, a confiança... e, até, outras que alguns acham bem escolarizar em disciplinas como Educação Cívica. Esquecem, suponho, que o ensinável respeita apenas ao que é comunicável de forma intencional e explícita como técnicas ou conhecimentos. Podemos ensinar uma receita culinária mas não podemos ensinar o saber nem o sabor.
Por isso, aqueles que, hoje, nomeadamente, muitos professores, defendem que a educação é uma tarefa da família e que à escola compete ensinar e que ao mesmo tempo clamam por dignidade e respeito, com tarjas penduradas nos átrios das escolas, são vítimas da contradição ao reivindicarem ser meros técnicos do ensino e, por outro lado, se acharem profissionais insubstituíveis de quem depende a educação dos jovens. Essa é uma contradição inerente ao sistema e de que o professor é a vítima.
Derivei para os professores ( não é fácil desligar) , porque a ideia era falar da última lição, do meu Czar, e da morte assistida. No décimo sétimo ano de vida estava muito velho. Deixou de ser capaz de subir escadas, deixou de andar e tinha dificuldade em manter-se em pé para comer. Olhava-me com um ar cada vez mais triste. Fui ao veterinário contar-lhe da minha tristeza e explicou- me todo o procedimento. No dia seguinte, deitado sobre a mesa, a seringa preparada, a minha mão sobre a cabeça dele, o olhar dele posto em mim. O veterinário, perguntou, posso e eu que sim. E, numa grande paz, apagou- se. Chorei. A morte é só uma passagem.
Durante uma dezena de anos trabalhei a obra Fédon com os alunos do 12º ano, sobre imortalidade da alma, de Platão. Alguns anos encenámos a morte de Sócrates. O meu Czar ensinou- me mais que tudo isso.
 

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