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Badameco

Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

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A terra dos compadres

Avatar do autor julmar, 02.10.23

O Compadrio em Portugal | Fundação Francisco Manuel dos Santos

Se houvesse censura, jamais um livro como este seria publicado. Não daria sequer para rasurar algum parágrafo como o que se segue. A obediência e a lealdade nunca foram para mim virtudes cardeais. O compadrio é intolerável em quaquer cidadão e, de modo especial, nos políticos que têm como função servir o bem comum.
O exemplo que se segue tem como personagens:
- Isaltino Morais, ex-presidiário, retornado à presidência da Câmara de Oeiras, após cumprimento de prisão por fraude fiscal, abuso de poder, corrupção e branqueamento de capitais. Um homem que prefere trabalhar à mesa nos restaurantes de boa comida e boa pinga.
 - Luís Marques Mendes, comentador efetivo da SIC (ele tem um sonho!), que nas suas homilias dominicais continua a fazer favores, a acusar os compadres que não sejam da sua família e que no aconselhamento de livros nunca se lembrou de recomendar este - O compadrio em Portugal. 
- Marcelo Rebelo de Sousa, o ex-comentador semanal, efetivo da TVI, o palco que o ajudou a chegar a Presidente da República para poder comentar, diariamente, em diversa horas do dia, tudo o que der na gana.
Todos na sombra do ex- presidente Cavaco Silva, homem tão sério que qualquer outro teria de nascer outra vez para alcançar tamanha seriedade. 
Luís Marques Mendes pediu-me para o receber e disse-me que a saída de Marcelo Rebelo de Sousa da liderança do partido o tinha deixado de fora da lista para as europeias, em 1990, que antes julgada ser certa, tendo já contraído algumas despesas em Bruxelas. Percebi o seu nervosismo e não tive como não ajudar.
Fi-lo presidente da EIA ( a entidade instituidora e gestora da universidade Atlântica, de que a Câmara Municipal de Oeiras era acionista maioritária) quando, em 1999, me entrou no gabinete pedindo-me o cargo. (Morais, 215: 51).
Com este extrato não se creia que se trata de um ataque a qualquer partido ou ideologia. O compadrio é transversal a toda a sociedade.  É uma análise científica que nos deveria ajudar a combater esta "epidemia nacional" 

O efeito corrosivo da prevalência do compadrio no sentido comum do que é justo deve convocar-nos a uma profunda reflexão. Sobre esta epidemia nacional. Uma prevalência que mais não é do que um sintoma de um Estado de direito a falhar.

 Em suma, sabemos que o compadrio subverte a igualdade. Sabemos que a igualdade é uma das referências do que consideramos justo. E sabemos que há um desejo coletivo pelo que é justo. Nesse sentido, combater o compadrio é um dever de cidadania para todos aqueles que desejam construir em Portugal um verdadeiro Estado de direito e um país mais justo. Penso que não é pedir muito, sobretudo por parte de quem nasceu depois de abril?.(pg 112)