Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Badameco

Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

Badameco

Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

A Resistência Íntima, ensaio de uma filosofia a da proximidade

Avatar do autor julmar, 07.08.20

 

Leyaonline - A Resistência Íntima - eBook - ESQUIROL, JOSEP MARIA

De regresso à filosofia do concreto, mais próxima da poesia: mais longe da verdade, mais perto do coração? Quod est demonstrandum. Mas, sobretudo, "tocai e fazei-vos a comida".

Elogio da quotidianidade: Quão simples é a vida

A proximidade às coisas e dos outros não é compatível com abstrações. É curioso que, hoje mais do que nunca, andemos tão falhos de concreção. Daí que seja imperioso o novo materialismo: o das mãos que pegam e tocam; o dos odores que sentimos e o das cores-fora dos ecrãs-que vemos. Quase equivalente ao esquema marxista: sem as mãos, as figuras da imaginação tornam-se tão abstratas que perdem os seus significados. O materialismo do qual andamos falhos hoje não é o teórico-quase contraditório no seus termos-, mas o mais concreto, e por isso, o mais verdadeiro de todos. Senão o recuperarmos, então sim, a era digital será, mais que tudo, a era da evasão, o ópio renovado para o povo. De uma forma imperativa, poder-se-ia dizer: “por favor, tocai tudo quanto puderdes.” Tocai a terra, os troncos das árvores, as pedras, a fruta, os corpos desejados..., acariciai o ar e abraçai os filhos e agarrai os cobertores e fazei-vos a comida. Talvez Heráclito, perto do fogo, aproveitasse para assar um par de sardinhas e torrar uma fatia de pão; o prazer da primeira dentada viria precedido do odor que o peixe desprendia das brasas. Este é o verdadeiro materialismo das coisas.

(Pg 61)