A Decadência - O declínio do Ocidente
julmar, 17.07.20
Não se trata apenas de um livro grande (seiscentas e vinte e quatro páginas), é também um grande livro que nos mostra exaustivamente os factos que levam a que o bárbaro se torne civilizado e que o civilizado seja substituído por aquele. Sempre pela força (guerra, violência, tortura, terror, propaganda, manipulação, desinformação, doutrinação...) e obedecendo a uma lei fundamental da natureza, da sociedade, da cultura: a entropia.
A decadência é um facto. Mas é uma exploração política deste facto. Esta mostra-se sempre nociva. O otimista dirá que basta um homem providencial para inverter o valor decadentista. Um homem providencial uma máscara ou uma pespectiva messiânica: os marxismos e os fascismos, incluindo O nacional-socialismo são otimismos, pois, afirmam que basta agir num sentido para obter em inversão da curva entrópica. O islamismo entra nesta categoria das políticas otimistas que esperam um futuro radioso se o seu plano for aplicado. A vida segunda ordem da sharia eliminaria tudo o que é apresentado como decadente. Marxistas, leninistas, maoistas, castristas, fascistas, vichystas, nazis, islamitas, todos falam de regeneração do homem novo do renascimento acreditam que o mundo poderia ser diferente do que é, ou seja melhor, próspero,florescente, de certa maneira, edénico. O sangue não é levado em conta neste delírio de regeneração pelo proletariado, a nação, a raça, a jiade. Este otimismo acompanha-se de hecatombes inomináveis e de um fracasso sistemático dos seus projetos na história.
O pessimismo dirá que nada há a fazer, que as coisas são assim, tudo faz parte da ordem do mundo, que é preciso um forte dique para reter esta maré de água suja. Natureza humana para os laicos, pecado original para os cristãos, pulsão de morte para os freudianos, todos comungam da mesma crença no regime forte para conter a violência que não pode deixar de existir. (...)
Por vezes, o pessimista torna-se otimista quando se declara reacionário, ou seja no sentido etimológico, quando deseja restaurar uma ordem antiga o otimista quer melhorar o presente com o futuro; o pessimista quer o mesmo mas com o passado. Um promete o paraíso com o progresso; o outro, com o regresso. O primeiro espera a salvação do futuro porque pensa que tudo se resolva com a suas receitas progressistas; o segundo penso que, como as coisas eram melhores antes, é preciso regressar aos fundamentais antigos. Ora, o presente não se faz nem com o futuro do otimista nem com o passado do pessimista, mas com o instante do trágico. Nem o otimismo nem o pessimismo servem quando se impõe a terceira opção, que é o pensamento do trágico.: O trágico vê a realidade tal como é, pelo menos esforça- se o mais possível para ver o real tal como é. Não se contenta a acreditar, como o otimista que se pode tapar a cratera do vulcão em erupção ou, como o pessimista a pensar que um dia que pode conter o fluxo da sua lava. O trágico vê e não giza nenhum plano para impedir que o real existe é assim e não de outra maneira. Factum, diziam os romanos. O vulcão que expele a sua lava, como a civilização que se desmorona, é uma manifestação de puro determinismo. Melindrar- se com isso equivale a um pensamento mágico. Mas dirão os amantes do livre arbítrio, não devemos então preferir uma causa a outra? Escolher um campo e afastar o outro? Aquilo que não aconteceu teria acontecido se aquilo que aconteceu não tivesse acontecido. (...) Pouco importa o nome do ditador, a ditadura está inscrita na ordem das coisas. A resistência à ditadura obedece a um determinismo mesmo acontece com indiferença a ditadura. Os nomes próprios são máscaras usadas pela necessidade.
(Pg 33)