A CEIA DO LAVRADOR
julmar, 18.03.11
Deram os sinos trindades
Por sobre as casas da aldeia
Toques de suavidades
Que prenunciam a ceia
Mas mesmo que ande de zorros
O lavrador, que é bom pai,
A ver se a ceia é pra todos
Não manda, que ele proprio vai.
Começa a sua inspecçáo
Plas vacas, gado mais nobre
Também cabonde ração
Prás cabras, vacas dos pobres.
Á égua, luxo da casa,
Á burra, sua cestinha,
Mangedora a feno rasa
Mais até do que convinha.
Pois na pia do cevado,
Que só pra comer nasceu,
É o farelo um pecado,
De fartura brada ao céu.
O gado de bico dorme
Ao fusco se regalara
Os cães aguardam que enforme
O caldo que nutre e sara
Aos animais sem razão
Aconchego já não falta
A seguir vem o pregão
Chamando pra mesa a malta.
Filhos, netos, jornaleiros
O conhecem e de cor
Mendigos e passageiros
Também cabem em redor.
Na mesa, que é um altarzinho
Que branca toalha cobre
Não falta caldo nem vinho
Nem pão. regalo do pobre.
vem á ceia as courelas
cada uma traz seus mimos
dá o quintal bagatelas
a veiga fartos arrimos
Das bouças vêm canhotos
Que um bento calor evolam
E até os manigotos
Mandam cheiros que consolam
Vinhedos, chões e vergéis
Primasias se disputam…
Nem as rochas são revéis
Em dura freima labutam.
As do monte mandam coelhos
As da ribeira bordalos
Pirilampos são espelhos
A cegarrega é dos ralos.
As Almas Santas dos Céus
Também descem para a mesa
A noite, negra de breu,
Resplandesce com a reza.
E quando acaba a litânia
A prece que ceia encerra
Manda pra longe a cizânia
A paz reina sobre a Terra,
Dia um da criação
A quantos na tasca estão.
(Leal Freire