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Badameco

Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

Badameco

Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

Portugal é Lisboa

Avatar do autor julmar, 22.08.10

O resto é paisagem. Paisagem pintada em extensas manchas de negro e um verde baço com castanhos cansados e inúmeros tons de pasto. De onde em onde, um verde vivo de uma pequena horta ou de uma vinha. Campos abandonados onde silvas e giestas encobrem muros graníticos delimitadores que arames farpados substituíram; casas de quintas arruinadas, caminhos intransitáveis. Aldeias que atravessamos sem ver vivalma ou, com sorte, um outro velho vergado ao peso do passado.

Há 50 anos Lisboa era alimentada pela província. Hoje é a própria província que importa do estrangeiro com que se alimentar. Nem agricultura, nem pastorícia, nem caça, nem pesca. Nem gentes. O património paisagístico, arquitectónico, monumental vai sendo devorado pela incúria dos homens e inclemência do tempo.

O país pequeno, encolhe cada ano mais um pouco enquanto os ilustrados académicos e responsáveis políticos tecem especiosos discursos sobre sustentabilidade e qualidade de vida.

As políticas para recuperar o nosso atraso traduzem-se sempre em eliminar os atrasados: eliminam-se as actividades atrasadas e com elas os seus actores: a agricultura, as pescas, a extracção mineira, as actividades artesanais, a indústria, as pequenas lojas de comércio. A seguir eliminam-se os serviços do Estado: de saúde, de educação e de segurança. E claro: é tudo muito, muito racional olhado pelo lado da eficiência tecnocrática. Dado que não ordenamos o campo nem cuidamos dele lançamos mão de meios tecnológicos avançadíssimos para combater os incêndios que põem em marcha uma economia altamente qualificada. E todos os anos se adquirem mais meios e todos os anos são insuficientes. E mais uma vez suprimos a insuficiência recorrendo ao estrangeiro. E a lógica a que nos conduzem traduz-se num caminho irreversível que aumenta a dívida, encolhe o país, nos torna ricos hoje e pobres amanhã. E, por favor, não culpem os políticos.