Ainda A MAIS ALTA SOLIDÃO
julmar, 23.05.10
Religioso ou laico parece ser da natureza do homem a abertura à transcendência. Os caminhos são muitos. A disposição para correr riscos é diversa.
No Evangelho também Jesus diz que para ganhar a vida é preciso arriscá-la.
E Hegel na sua Fenomenologia do Espírito:
«E é apenas arriscando a vida que se obtém a liberdade; só deste modo se experimenta e prova que a natureza essencial da autoconsciência não é a simples existência, não é meramente a forma imediata com que pela primeira vez aparece ... O indivíduo que não tenha arriscado a sua vida pode, sem dúvida, ser reconhecido como pessoa; mas não atinge a verdade desse reconhecimento enquanto autoconsciência independente».
«Quando decidi dedicar todos os meus esforços a subir montanhas, todas as que puder, sabia que a morte faz parte desse modo de vida, mas sabia também o que é preciso fazer para a prolongar, em teoria, as probabilidades de sobrevivência. Conhecia os riscos de permanência em altitude, sabia identificar os sinais de perigo, até sabia que lá em cima não conseguimos manter o mesmo discernimento que cá em baixo. Não conseguimos manter um pensamento lúcido e coerente, movemo-nos à base de sentimentos, associações de ideias. Sabia que chegar lá cima não é o fim da história, que é preciso voltar. Sabia que a vitória é darmos o nosso melhor e regressarmos bem. Sabia que a vitória não é atingir o cume, mas regressarmos cá abaixo são e salvo e sentar-me em volta de uma mesa, com os amigos, a recordar como foi. Sabia isso tudo. E no entanto, …»
João Garcia