A Sanha da ASAE ou a sanha de Miguel Sousa Tavares?
julmar, 12.01.08
Quem jogar bem com as palavras (MST é mestre) consegue com naturalidade levar a água ao seu moinho, puxar brasa à sua sardinha, isto é, defender os seus interesses, parecendo estar a defender uma causa tão essencial que a todos deveria congregar. Só que desta vez nem os dotes retóricos conseguem disfarçar o interesse mesquinho e pessoal do cronista (diário de um clandestino). Disse cronista e não comentador. Estou de acordo com o MST: Não paro de me espantar: não como ele «em relação à facilidade com que os católicos resolvem alguns problemas complicados de consciência e de culpa» mas à maneira como o MST torna o seu problema pessoal em relação ao tabaco um problema de política nacional, um problema de regime. Não se contentando com o fascismo caseiro de bufos e pides compara os portugueses (dois milhões!) obrigados a ir para as ruas fumar aos primeiros decretos antijudeus da Alemanha nazi. É verdade que não chega a avançar resposta à pergunta: «Será que aguentaremos o gueto sem nos revoltarmos»? Mas não seria de estranhar, corajoso como é, que de ameaças de partir a cara a quem critica a sua escrita passasse a vias de facto e comandasse – e para esse comando contaria com outros generais como Luís Nazaré, Pires de Lima – o maior exército já visto em Portugal formado de dois milhões de portugueses e portuguesas ( que na luta pela igualdade de género conseguiram esta importante conquista). Naturalmente, não é fácil mobilizar e organizar um exército tão grande e heterogéneo: Homens e mulheres, solteiros e casados, ricos e pobres, devotas freiras e mulheres de vida dita fácil, homens da ASAE vestidos à civil, patrões e operários, civis e militares, clérigos e leigos, escritores exímios e analfabetos de pai e mãe, crentes e ateus, fascistas e democratas … e muitos, muitos velhinhos (as velhinhas são uma raridade, por razões que todos sabemos), velhinhos reformados e que o nosso imaginário vê sempre como pobres e reformados a jogar as cartas e dominó reconfortados por um copo de tinto … e um cigarro. Eles são o nosso modelo: como poderíamos imaginar-nos velhinhos sem o conforto de um cigarro? É em nome deste futuro que este exército tem de se bater. É em nome do fumo que se avançará contra os canhões da ASAE, colocando os velhinhos à frente - assim como assim eles já não vão durar muito – ao som do hino nacional e todos de cigarro na boca, criando uma tamanha nuvem de fumo que até o D. Sebastião poderá aproveitar para o seu reaparecimento. O que se espera é que não haja covardes, traidores, desertores e que deixem o Miguel sozinho a pregar no Expresso e no terreno à frente do exército de velhinhos que estes acham que já é tarde demais para saber o prazer que é viver sem fumar.