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Badameco

Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

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Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

As fichas de Santana Castilho - Afonso Leonardo

Avatar do autor julmar, 07.11.06

Tenho pelos professores a mesma consideração que tenho por qualquer outro cidadão. Nem mais nem menos. Aprecio qualquer um quando faz o seu trabalho bem feito. Por isso, não acredito nas loas dos sindicatos sobre os méritos de uma classe tão numerosa nem nos deméritos que outros lhe atribuem. Estou mesmo em crer que partilham dos defeitos e das virtudes de todos os seus concidadãos. Estou igualmente em crer que os fracos resultados que obtêm se devem a uma política educativa desastrosa desde há muitos anos e que leva a que às organizações onde trabalham não sejam pedidas contas. Porque de contas se trata. Faz de contas o governo que governa, fazem de conta os alunos que aprendem, fazem de conta os professores que ensinam. Fazem de conta os sindicatos que os professores são todos tão bons que todos em carreira chegam ao topo. Fazem de conta que as leis, nomeadamente a do estatuto da Carreira Docente, sempre foi cumprida e que pelos seus brilhantes resultados deveria ser mantida. Faz-se de conta que para a educadora que dá de comer às criancinhas enquanto canta o Come a papa Joana come a papa e o professor que ensina a Fenomenologia do Espírito se requer igual grau académico e igual retribuição. Faz-se de conta que a boa vontade proposta por Kant deveria ser o único imperativo a reger a actividade docente. Faz-se de conta que na carreira docente alguns professores para transitarem ao 8º escalão não tiveram que prestar provas públicas (como a memória é curta!). Faz-se de conta que muitos professores que estão agora no topo da carreira não se licenciaram num ano sem precisarem sequer de deixar de trabalhar. Faz-se de conta que não havia escolas públicas a esvaziarem-se de alunos onde os professores com poucas horas iam leccionar para os colégios ao lado que se iam enchendo. Faz-se de conta que a formação contínua dos professores era uma resposta aos seus problemas profissionais e das suas escolas. Faz-se de conta que não houve professores que se reformaram aos cinquenta anos porque compraram tempo de serviço que faz de conta que existiu. Faz-se de conta que existiu uma coisa chamada ‘Área-Escola?’, uma disciplina chamada Desenvolvimento Social e Pessoal (DPS), um movimento da Escola Cultural (como seria possível uma escola não ser cultural?!) . Faz-se de conta que é normal um aluno de 7º ano ter 15 (Quinze) disciplinas. Faz-se de conta que é normal os ministros da Educação terem muito boas ideias sobre o assunto depois de terem sido ministros e escreverem livros interessantes. 

De tanto fazer de conta até fazemos de conta que a conta que contamos há-de ser levada a sério. Vem isto a propósito de um artigo do escrevente Santana Castilho (professor do Ensino Superior), publicado no Público, em 6 de Novembro de 2006. Dirigindo-se aos pais, diz: «Pensem que ter 200 alunos é uma média corrente». Que quer dizer, o senhor professor, com média corrente? Quer dizer que a média de alunos por professor é de 200? Quer dizer que é frequente um professor ter 200 alunos? Ou, simplesmente, dentro da cultura atrás exposta, quer dizer que faz de conta que cada professor tem 200 alunos? Se for a sério e fazendo contas do teor que o senhor professor faz metade da população portuguesa anda na escola. Então, depois de contas assim feitas, acha que as fichas é que são idiotas?