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Badameco

Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

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Ao entardecer

Avatar do autor julmar, 18.07.25

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O amigo Hortênsio, poeta sem palavras, pré-histórico por desconhecer a escrita, pede-me que lhe leia Cesário e Pessoa na versão Alberto Caeiro com quem partilha o deslumbramento do mundo rural.

Ao entardecer

Ao entardecer, debruçado pela janela,

E sabendo de soslaio que há campos em frente.

Leio até me arderem os olhos

O livro de Cesário Verde.

Que pena que tenho dele! Ele era um camponês

Que andava preso em liberdade pela cidade.

Mas o modo como olhava para as casas,

E o modo como reparava nas ruas,

E a maneira como dava pelas coisas,

É o de quem olha para árvores,

E de quem desce os olhos pela estrada por onde vai andando

E anda a reparar nas flores que há pelos campos...

Por isso ele tinha aquela grande tristeza

Que ele nunca disse bem que tinha,

Mas andava na cidade como quem anda no campo

E triste como esmagar flores em livros

E pôr plantas em jarros...