![Como o Ar que Respiramos]()
O autor diz tratar-se de um 'Ensaio' e eu aprecio este género literário, distinto de compêndios, tratados ou romances pelo modo breve, argumentativo, pessoal e reflexivo de abordagem de um tema. Género inaugurado por Michel de Montaigne, meu mestre inspirador do nome deste blog, com a publicação dos seus famosos 'Essais ' em 1580. Depois dele ficaram famosos no género, entre outros, F. Bacon, Ralph Waldo Emerson, George Orwell, Virginia Woolf, gente que faz parte do meu universo cultural.
No presente caso o tema é Cultura um tema tão abrangente que nada do que é humano lhe é estranho. Vivemos imersos nela como o peixe na água. Muitos, uns felizes outros nem tanto, vivem na cultura como os peixes, sem sobre ela jamais se interrogarem. Isso depende mais da cultura em que se nasce do que da vontade dos indivíduos. Porém, sobretudo após o apelo de Kant "sapere aude" - ousa saber - torna-se um requisito para a realização do indivíduo e para uma humanidade mais justa e fraterna. Este é um ensaio, para quem se interroga sobre as múltiplas questões que hoje se colocam sobre a cultura, de leitura obrigatória. Não porque nele se encontrem as respostas mas porque nos ajuda a colocar as questões certas e, porventura, os caminhos a ensaiar.
Alguns respigos
“ deste modo, qualquer reivindicação das necessidades do sistema cultural requer uma argumentação sobre a sua função social, uma explicação de para que serve e a quem serve. Põe à prova a tese deste ensaio”. Páginas 51
Os dois argumentos - o económico e o da coesão social- são verdadeiros.
“O principal trabalho da cultura é organização estrutural do mundo que nos rodeia. A cultura é um gerador de estruturalidade e cria uma esfera social em torno do homem que, tal como a biosfera, torna a vida é possível (neste caso a vida social e não orgânica)
páginas 66 Even-Zohar
A identidade cultural e a coesão social precisam de partilhar um repertório de bens e/ou ferramentas culturais
O repertório permite manter ou criar a identidade coletiva e estreitar o laços da comunidade.
A riqueza de uma comunidade não se mede, em termos culturais, pelo seu património mas pelo volume da caixa de ferramentas,ou seja, pela quantidade de opções que proporciona.
“ dispomos, assim, de parâmetros distintos dos meramente económicos para avaliar o estado da sociedade: pelo nível de organização, posição alcançada, entreajuda dos seus membros, capacidade para agir, auto confiança e acesso a oportunidades de empreendedorismo. É nisto que consiste o capital cultural coletivo. Deste modo, propõe é apenas o ar, a energia de uma sociedade e a sua capacidade para responder a novos desafios e crises estão relacionadas com atividade investida em planeamento e aí eu largar o leite de opções.“ Página 109
Quem, na cultura, nomeadamente na arte, legítima o que é valoroso é, segundo Pierre Bourdieu, “ o reconhecimento pelos que não reconhecem outro critério de legitimidade a não ser o reconhecimento por parte dos que eles reconhecem “ pg 76
“ tal como acontece com a educação medir quais são os efeitos da produção cultural requer um horizonte distante e critérios imprecisos como determinar os índices de felicidade, de consciência crítica aos saúde democrática. De? Isto faz-me lembrar a tentativa de querer estabelecer critérios precisos para avaliar um teste de literatura ou de filosofia: quanto mais precisos E objetivos forem os critérios menos avaliam. O extremo é só as perguntas de sim ou não ou chega.
Sobre a violência interétnica, David Rieff, jornalista que testemunhou os abusos da memória coletiva e a manipulação da História, na pg 126:
“ não estou a sugerir que há uma solução fácil. Pelo contrário, é provável que a necessidade de comunidade dos seres humanos, que já é imperiosa em tempos de paz e abundância, pareça uma exigência psíquica e moral em tempos difíceis. Mas, pelo menos, que não se faça vista grossa ao preço elevado que as sociedades têm pago pelo consolo de recordação. São os casos nos quais é possível que, enquanto esquecer é uma injustiça para o passado, recordar é uma injustiça para o presente. Nestes casos, quando a memória coletiva condena as comunidades se sentirem dor das suas feridas históricas e a amargura das queixas históricas, não é o dever de recordar mas o dever de esquecer se deveria acatar.”
“A cultura não é um produto para vender nem um património para defender. É uma atividade viva, plural e conflituosa com a qual homens e mulheres dão sentido ao mundo que partilhamos e no qual nos envolvemos. Portanto, uma relação entre a política e a cultura só pode apontar para a necessidade de ‘desapropriar a cultura’ para possibilitarmos outra experiência do coletivo. “ Página 171
A cultura como um bem de primeira necessidade.
Aristóteles dizia que o ser humano se compraz na imitação, isto é, na poesia, no teatro e na narração, porque desde a infância aprende graças às histórias que lhe contam