Sarejas du Fudau
julmar, 12.05.24
(Fotografia de João Afonso)
Sim, se quiser pode rir. Já me ri desta e de muitas outras. Também já me ri de gralhas cómicas que escrevi, de erros ortográficos e sintáticos que cometi e de outas formalidades gramaticais que não respeitei. A principal finalidade da língua e da linguagem é a comunicação, fazermo-nos entender. A beleza é uma outra dimensão que não tem a ver com a utilidade. Em tempos, um amigo meu, muito zelozo da correção ortográfica, observador atento de escritos publicitários e ementas de restaurantes dizia-me que tal como a ASAE (deixei de ouvir o nome, talvez já não exista) que fiscaliza e multa as infrações que atentam contra a higiene e segurança alimentar, deveria haver sanções contra os erros cometidos contra a língua portuguesa. Dar-se-ia, porventura, o caso que tendo de contratar quem soubesse escrever, agravando os custos, ou sujeitar-se às multas, alguns encerrassem o estabelecimento. Por mim, para além do mais, perdería inúmeras oportunidades de rir, que dizem os entendidos (em quê?) fazer bem à saúde. Podemos e devemos rir sem ofender. Coisa diferente é humilhar e apoucar as pessoas de quem não sabemos as oportunidades que tiveram de se instruir e não falta quem advogue que quem não sabe escrever bem o não deve fazer e que quem não fale bem deve estar calado. Por mim, guardo saudades do falar dos aldeões, dos rurais onde tenho raízes e onde estão em extinção os últimos que em vez do ch pronunciavam o tch e conjugavam o verbo ser para o mesmo tempo, pessoa e modo de maneiras várias (sandes, sendes, sondes); ainda um dia destes, ao falar com um conterrâneo um outro me alertou: - Olhe que tem de lhe falar mais alto que ele não oice bem.
Gente que não ganhava o pão que comia a escolher palavras.
Entre todos os guardadores do tesouro linguístico, permito-me destacar Miguel Sousa Tavares, advogado, comentador e jornalista, com quem concordo em muito daquilo que mão envolva os seus interesses e gostos pessoais, ou seja: futebol (FCP), caça e tabagismo. O MST deveria entender que nem todos tiveram um berço igual ao seu e que precisa de fazer um esforço para entender o mundo dos outros. Tem todo o direito a não frequentar redes sociais e de lastimar quanto por lá se passa e dos maus tratos a que a língua portuguesa se sujeita, embora faça sentido perguntar: como é que ele sabe? Talvez as redes sociais fossem um sítio melhor se gente como o MST as frequentasse. E seria conveniente aprender com a história das línguas sobre as suas origens e evolução. O português antigo é muito diferente do português atual. As línguas 'bárbaras' tornaram-se línguas civilizacionais; o tosco inglês primitivo tornou-se uma língua universal; a invenção da imprensa arruinou o trabalho dos copistas como as redes sociais e o Chat GPT arruinarão os jornalistas.
Mais importante que as palavras são as coisas, sobretudo, quando se trata de trufas, espargos ou de SAREJAS DU FUDAU, um verdadeiro tesouro.
Quanto a erros, mais do que os de ortografia, são os erros de hortografia que me preocupam aos quais o meu amigo Hortênsio é propenso.