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Badameco

Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

Badameco

Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

À procura do sentido - Antídoto para o Caos

Avatar do autor julmar, 10.07.23

Li este livro, em inglês, em 2019. Percebi que o fato de querer melhorar o meu inglês me fazia perder uma compreensão mais exata do texto e, talvez, o que perdia fosse o essencial. Essa era, e é, a parte que, enquanto, filósofo mais me interessava. Esta inquietude levou-me à leitura do livro o "Mapa do Sentido", do mesmo autor. Li quase metade da extensa obra cuja compreensão exige muito de nós e senti-me insatisfeito por um deambular por mitos e religiões que certamente deleitavam o autor, mas que não respondia à minha procura. É assim que volvidos quatro anos volto às 12 regras, interessado no que está para além delas, ou melhor, que lhes dá fundamento.  E esse fundamento fui encontrá-lo lá no limite a partir do qual a razão não pode avançar. Chegados aí, ou aceitamos por aí ficar e encontrar um sentido  e uma justificação para o sentido da vida ou damos um salto no escuro que a fé há-de iluminar. É esse salto que o autor dá e a partir daí voltamos à Idade Média em que a razão é uma escrava da Teologia (Philosopia ancilla teologiae). Assim, toma a Bíblia cujas histórias do Novo e Velho Testamento nos haverão de guiar. Enfim, apesar da chegada da ciência o homem deverá a ter como guia a religião. Porque a realidade é tão má que só a ilusão nos pode salvar e, assim a religião torna-se o enorme guarda-chuva da humanidade, decreta a irracionalidade do ser ou pelo menos da sua metade (a face negra):

“Pelo contrário, é a compreensão de que as irracionalidades trágicas da vida têm de ser contrabalançadas por um irracional compromisso com a bondade essencial do Ser” Pg 147
e que devemos fazer uma opção se nos queremos salvar:
“Isso quer dizer que aquilo que vemos depende das nossas crenças religiosas? Sim! Tal como aquilo que não vemos! Poderá refutar isto, dizendo : ‘Mas sou ateu’ Não, não é ( e se quer entender isto, pode ler Crime e Castigo, de Dostoiévsky… É demasiado complexo para se entender a si mesmo … Não percebemos nada. Nem sequer sabemos que somos cegos … A Bíblia é para o melhor e para o pior, o documento fundacional da civilização ocidental “
 
Peterson, crente que a fé (religiosa) é que nos salva, fecha os olhos à razão e dá um salto no escuro. Todo o filósofo que andou um longo caminho, chegado aí, ou dá o salto para a outra margem e entra no mundo dos deuses ou permanece no mundo dos homens e, humilde e ciente da condição do homem, se contenta com a fé secular. Nada prova, antes pelo contrário, que o ateu esteja impedido de a sua conduta ser feita em função do que Peterson designa como um Bem Maior. A superioridade moral não advém da religião que se pratica ou da ausência de prática religiosa. Os mitos e as religiões foram determinantes na construção da humanidade enquanto não pôde dispor de outras ferramentas que lhe dessem conhecimento sobre si e sobre a natureza. Se alguém adoecia, recorria-se aos conhecimentos e práticas existentes - ervas, rezas, bruxas, magias, etc. Era normal que assim fosse. 
Todo o fundamento da conduta da vida humana e receita para uma vida com sentido é bíblica agora esclarecida pela ciência. Por isso, usa uma linguagem salvívica seduzido pelo sermáo da montanha, com as tentações de Jesus no deserto, com a multiplicação do pão e do vinho nas bodas de Canã, com os lírios do campo.
Só após a leitura soube da grave depressão em que Peterson havia caído e isso inquieta-me.
Ele que genuinamente nos indica o caminho do resguardo dos perigos a que estamos sujeitos, sobre como evitar a queda no pior dos males, que sabe até ao tutano como o evitar se tenha deixado morder pelas serpentes, se tenha deixado enredar e descido aos infernos. O que falhou? Perguntamos-lhe, sem afronta, a ele que cita continuamente a Bíblia: “salvaste - ou quiseste salvar - os outros porque não te salvas a ti mesmo”?
O que falhou?
“Quando as coisas desmoronam, o que foi ignorado, aparece subitamente. Quando as coisas não são especificadas com precisão, as paredes desmoronam e o caos revela a sua presença. Quando somos descuidados e deixamos as coisas degradarem-se, aquilo a que não demos atenção surge mais com mais força e ataca, adotando uma forma tortuosa, no pior momento possível. É então que vemos como somos protegidos por uma intenção focada, por um objetivo estabelecido e por uma atenção cuidadosa” Pg 337
 
O que correu mal, que deus lhe faria uma coisa assim? Pergunta-se. E responde: “a sua casa fora construída sobre uma fundação de areia “
Então, o que falha: a razão ou a fé? ou as duas?
Então, estamos condenados?

À parte estas questões filosóficas penso que todos poderão tirar proveito se compreenderem as 12 regras e as puserem em prática. Talvez não caiam no "Inferno", talvez possam ter uma vida melhor.