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Badameco

Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

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Regresso a África

Avatar do autor julmar, 30.04.23

A ficção dá-nos um lado da realidade que a ciência e a história - esquemas, números, estatísticas, conceitos, categorias, relações, causas e efeitos - não nos podem dar - a vida concreta dos homens na sua complexidade. Foi assim, que com esta leitura voltei a África, esse continente que atravessei, no meu andarilhar de todos os dias, de Alexandria até à Cidade do Cabo. África!, esse continente que os colonos quiseram cristianizar e acabou quase todo a praticar o Islão. África que sofreu com a colonização e com a descolonização, sendo que é nesse dois momentos que as histórias das gentes se passam. 

“Tudo mudou da noite para o dia. Não houve tempo para nos habituarmos ao que quer que fosse. Temos de encontrar outras palavras para falar sobre a maneira como agora vivemos. Não gostam de ouvir as pessoas dizer certas coisas ou cantar determinadas canções. Não podemos pronunciar o nome do Sultão ou falar do anterior governo. Se durou um mês e depois mudou tudo de supetão. A nova bandeira já não existe. É ilegal possuir uma, ainda que apenas por curiosidade. Já comecei a esquecê-la. Não me lembro da cor do par de cravinhos, se eram castanhos ou dourados. O hino já está esquecido. Acho que ninguém seria capaz de trautear um único verso. Se o fizesse, seria espancado ou pior. Já houve assassinatos. Não posso escrever estas coisas.  Assustaram-nos em demasia e seria um disparate ser apanhado a rabiscar acerca daquilo que não podemos saber.” Pg 275