O Princípio de tudo
julmar, 28.01.23
Começei o ano com uma extensa leitura, uma longa viagem ao princípio de tudo. Houve um princípio que me foi contado, não como uma metáfora, mas como, mais que real, sagrado: A história do paraíso terreal em que Eva se aproveitou da sesta do seu senhor para roubar o fruto proibido. Depois a história continua, séculos fora, até aparecer Jesus Cristo, "morto e crucificado, ressucitou dos mortos ao terceiro dia e subiu ao céu...", por aí fora. O mundo esteve cheio de histórias assim, de mitos. Porém, eu sou filho de Eva na história que me fez pertencer ao mundo cultural judaico-cristão. A vida e o estudo no seminário repetiram e alargaram a história que de tão insistentes me despertaram a dúvida. Mais tarde, na universidade, sob supervisão dos jesuítas, com a filosofia escolástica, a mesma história, agora no esforço de a compatibilizar com a 'razão natural', sempre sob o lema escolástico "Philosophia ancilla Theologiae". Até repetir o gesto de Eva: desobedecer. Em vez de maçã foram livros proibidos. Quando chegou a hora da certificação a que tinha direito recusaram conceder-ma e tive de a conseguir noutro lugar.
Não é da minha história que o livro trata. Ou melhor, também é minha (e de cada um de nós) porque é da humanidade. Se os livros não tratassem de nós não teriam qualquer interesse, pois, os motivos fundamentais por que o escritor escreve são os mesmos dos do leitor que lê.
Ler é como viajar. E depois que a viagem termina ainda continuamos durante muito tempo a pensar em tudo quanto vimos e ouvimos. Haverá coisas que jamais esqueceremos, sobretudo, as diferenças entre nós e os outros. Esta foi uma longa viagem absorvente que nos obrigou a pôr em causa muito daquilo que para nós já tinha sido uma iluminação, uma certeza. Porém, isso só reforça a convicção de que aprendemos desaprendendo e desobedecendo. Como na construção do conhecimento, o nosso desenvolvimento não pode ser aditivo, mas requer rupturas. O mandamento inscrito no pórtico de Delfos que Sócrates levou a sério: «Conhece-te a ti próprio», passa muito pela indagação dos caminhos que a humanidade percorreu até hoje.
“Como é que ficamos presos? Como é que acabamos de um único modo? Como é que perdemos aquela consciência política, outrora tão típica da nossa espécie? Como é que passamos a tratar a iminência e a sua subserviência não como expediente temporários, ou até com a bomba e circunstâncias de uma espécie de grandioso teatro do jornal, mas como elemento da condição humana? Se começamos apenas a jogar jogos, em que ponto nos esquecemos de que estávamos a jogar? “ Página 142
“… a nossa questão inicial: o verdadeiro enigma não é quando terão os chefes, ou até os réis e as rainhas, surgido pela primeira vez, mas quando terá deixado de ser possível ridicularizá-los.” Pg 161
"Ao olharmos de novo para trás, história, é impossível sabermos ao certo que forma de propriedade ou titularidade existiram em lugares como SG, Overtime põe-te, já nem Mariana ou estudante, do mesmo modo que não podemos garantir que os objetos de aviões dos preços do paleolítico Superior eram as suas respostas pessoais. O que podemos agora sugerir, a luz destas considerações mais abrangentes, é que tens teatros de rituais cuidadosamente cordados, muitas vezes estruturados, com precisão geométrica, eram os lugares típicos onde as reivindicações exclusivo dos direitos sobre propriedade-rigorosa as exigências de obediência incontestada Essen seriam feitas, no seio de povos que, nas restantes dimensões, eram euros. Eram livres. se a propriedade privada teve origem, esta é também um dia uma ideia do sagrado, a qual, por sua vez, é provavelmente antiga ou a própria humanidade. A questão pertinente colocar não é tanto quando tal terá acontecido, mas mais como acabou por organizar tantos outros aspetos da vida humana. 194