Regresso à conversa com Michel Onfray - uma conversa breve, depois da longa conversa sobre "O declínio do Ocidente". Gosto de geografia, gosto da literatura de viagens. Gosto de todos os filósofos que li, mesmo que não esteja de acordo com as suas posições e gosto de da filosofia de Onfray por, além do exercício da razão, partilhar do mesmo caminho.
Há teorias sobre (quase) tudo o que importa ao homem e as viagens importam muito. O que faz este opúsculo é um esboço de teoria que poderia ser a introdução para uma teoria mais alargada e que abordasse o homem sobre essa perspetiva de Homo Viator, ou de O Viandante e a sua Sombra , só para enunciar dois títulos de posições tão diversa como são Gabriel Marcel e Fréderic Nietzsche.
As pessoas que desprezam as teorias, afirmando que o importante é a prática é, por norma, gente cega que se acha iluminada que prefere andar de qualquer maneira mesmo que não saiba para onde vai, ou que pensa que a algum lado há-de ir ter. Gente preguiçosa que, quando muito, aceita uma teoria qualquer. É gente sedentária que não tem alma de viajante.
"Na viagem apenas se descobre o que trazemos connosco. O vazio do viajante traduz a vacuidade da viagem; a sua riqueza produz a excelência (...)
“Não viajamos para nos curarmos, mas para nos adestrar, fortalecer, conhecer e apreender mais profundamente (...)
"Musicar o real impele-o a surgir em modos mais facilmente perpetuados (...)
O mundo resiste, contudo às tentativas de ser traduzido em palavras. O o discurso poético permite, sem dúvida, uma aproximação mais subtil, e também mais volátil. Quanto mais imagens e sinestesias, mais o epicentro do real aparece, mas também mais frágil, delicado evanescente se revela. O poema lesse, relesse, medita-se e alcança o éter, provocando incessantemente uma reativação da leitura.(…)
A maioria dos filósofos ignora a geografia.
A história permite pensar a política, mas a escrita da terra-segundo termo grego-não obrém nenhum voto e parece aparentemente inútil à primeira vista. Os dois mundos podem, contudo, comunicar, criando assim uma política de um tipo pré- socrático ou bachelardiano: para isso basta recorrer a uma retórica dos elementos, a uma metafísica da terra e do fogo, a uma ontologia do ar e do éter, a uma lógica das matérias e dos fluxos, numa palavra, a uma estética. A etimologia revela o parentesco da palavra e da faculdade de sentir ou de aprender o sensível. Uma poética de geografia gera uma estética materialista e dinâmica, uma filosofia das forças e dos fluxos, formas e movimentos. (…)
Gosto de ver, quando espreita pelas vigias dos aviões, a geografia encarnada, compreender movimentos que, graças aos coremas de Roger Brunet, se tornam de súbito inteligíveis. Cidades, aglomerados de aldeias, estradas de montanha, geografias caprichosas , a claridade diurna espalhada pelos vales, a sombra nas vertentes das montanhas, a luz nas encostas, as linhas de caminho de ferro, o recortes dos campos, gosto do amarelo da colza, do verde do trigo ainda viçoso, do violeta ou da malva da lavanda, gosto das margens recortadas, das costas do litoral, decorrentes do jogos de cores refletidos no mar, de redes hidrográficas, lagos, riachos, açudes, pântanos transformados pelo sol em intensos espelhos, gosto de ver passar os automóveis, pequenos traços lentos nas estradas, desaparecer os comboios, ao longo de serpentes ondulantes, deslizar as barcaças, pesadas e lentas, ou caminhar os humanos, fúteis e essenciais.
Toda esta diversidade vista do céu resume-se a uma sábia arte combinatória que revela uma verdadeira decifração do mundo, mantendo uma autêntica leitura do real geográfico. O que é afinal a geografia coremática? Um alfabeto de signos, de coremas, capazes de revelar todas as organizações espaciais legíveis nas paisagens. O contemplar indolente debruçado sobre a terra pode, pela vigia, e com ajuda destas categorias da razão pura geográfica, ler, decifrar, compreender, operar inteligentemente através da visão. Do real sensível às categorias inteligíveis o próprio viajante leva a cabo o processo dedutivo, ativa a processão, como seguiria em termos Plotinianos.
Se o viajante e o contemplador se recordar em que a palavra de venda arte de colocar em pespectiva instâncias que, a priori, não possui nenhuma relação entre elas, alcançam o verdadeiro júbilo da inteligência. Uma floresta e uma área, um caminho e uma linha, uma aldeia e 1., uma paisagem e uma rede-porque., linha, área e rede oferecem as quatro entrada que devem ser colocadas em perspetiva com a sete colunas que representam as estruturas elementares do espaço: rede, quadrícula, gravitação, contacto, tropismo, dinâmica territorial, e que era de tia hierarquia. Com ajuda das quatro referências em erro Cisse e dezassete coordenadas obtemos vinte e oito figuras cardeais que nos permitiram decifrar o mundo. Embalados pelo ruído no avião que vem a dança a 1000 m de altitude, podemos então entreter-nos a procurar, e a encontrar, áreas de contacto, canteiros urbanos, cerca de rede, podemos observar disse simetrias em evolução, discernir gráficos, apurar ligações preferenciais, assinalar roturas, distinguir inter faces, seguir linhas de partida de partilha, surpreender redes de estações, caixas de propagação e áreas de extensão, pontos consecutivos e superfícies de tendência a diversidade do Real concreto simplifica-se graças a grelha de leitura muito útilA descodificação daquilo que constitui a paisagem e a natureza. Já no solo, de regresso a terra, habitamos estas figuras transfiguradas depois de surpreendêramos a sua coerência vista do céu. Como vemo-nos de forma diferente perante um lugar que vislumbrámos previamente do avião, de forma global-Uma palavra que reduzem dúvida esta operação intelectual a forma de um globo, de uma espera esfera perfeita como uma mónada de live nisso. Atravessar os campos de força, passar a linha invisível de um interface Continental, transpor um arco, o mesmo estar diante de uma banana azul, exalo que nos faz pensar meditar sonhar."