A União de freguesias Aldeia da Ribeira, Vilar Maior, Badamalos - votou assim
julmar, 27.01.21
Acresce (não se vê na foto): Brancos - 1,42% - 2 votos; Nulos - 2,11% - 3 votos
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Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move
Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move
julmar, 27.01.21
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julmar, 24.01.21
Chegado aos setenta anos de idade, dei comigo a inaugurar uma década com a leitura de dois livros sobre a velhice. Talvez seja a aceitação de uma nova fase da vida, continuando fiel ao princípio de que as coisas são como são e tudo depende do modo como as encaramos. Diz Hesse que com a idade tendemos à repetição e, ao lê-lo, dei-me conta que já o havia lido, tinha, então, cicnquenta e cinco anos. Não é a primeira vez que releio livros e a experiência, só os livros muito bons devem ser relidos, é de que nos sabem muito melhor. Parece-me que com a idade procuramos muito mais o sabor do que o saber porque temos mais vagar e tudo é feito mais devagar.
"Nós, poetas e inteletuais, tendemos a dar grande importância à memória: este é o nosso capital, vivemos dele."
"O que seria de nós os velhos, se não tivéssemos esse livro ilustrado que é memória, toda essa riqueza de experiências vividas! Seria uma situação lamentável, seria umas uns miseráveis. Deste modo, porém, somos imensamente ricos e tamos a restar uma carcaça cansada, de encontro ao fim ao esquecimento; só umas guardeeis de um tesouro viverá e resplandecerá enquanto nós próprios respiramos "pg 82
julmar, 23.01.21
Impressão digital
Os meus olhos são uns olhos,
e é com esses olhos uns
que eu vejo no mundo escolhos,
onde outros, com outros olhos,
nao vêem escolhos nenhuns.
Quem diz escolhos, diz flores!
De tudo o mesmo se diz!
Onde uns vêem luto e dores,
uns outros descobrem cores
do mais formoso matiz.
Pelas ruas e estradas
onde passa tanta gente,
uns vêem pedras pisadas,
mas outros gnomos e fadas
num halo resplandecente!!
Inútil seguir vizinhos,
querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos!
Onde Sancho vê moinhos,
D.Quixote vê gigantes.
Vê moinhos? São moinhos!
Vê gigantes? São gigantes!
António Gedeão
“Movimento Perpétuo”, 1956
De tanto usar este poema nas aulas de filosofia, dei comigo a dizê-lo de cor. Acontece com as coisas de que gostamos muito. Os problemas filosóficos, formulados abstratamente, são, por vezes, difíceis de compreender, pelo que temos que recorrer a situações banais da vida. Faz todo o sentido perguntarmos se as coisas são como são ou se são como as vemos. Entre outros, Kant levou a sua vida a tratar deste problema que continua por resolver. Hoje, ao pequeno almoço, com um tempo desgraçado feito de chuva e vento, sentados à mesa, eu e a Teresa olhando a sebe das plantas falávamos na necessidade de as alinhar e falava-me ela de duas plantas (imagem de cima) e falava-lhe eu de uma planta (imagem da debaixo), ela que eram duas e eu que era uma, princípio de uma disputa facilmete abortada. Pedi para trocarmos de lugar e, afinal, cada um do seu ponto de vista tinha razão. Quase nunca é tão fácil mudar de lugar. O mundo de cada um de nós depende do tempo , do espaço, da cultrura e do modo como nos apropriamos dela. O mundo 'real' do Sancho Pança e do D. Quixote é o mesmo e não é. Por isso, é importante andar, mudar de lugar, viajar, ler, ouvir, comunicar que tudo isso nos ajuda a des(a)prender - o caminho para nos encontrarmos e poder encontrar os outros. O pior dos caminho é aprender sempre e cada vez mais, sem desaprender. E não se esqueça de duvidar. Também do que acabou de ler. Se tiver dúvidas, aconselho a leitura do Discurso do Método de Descartes, não para ter certezas mas para ter dúvidas diferentes.
julmar, 22.01.21
(Fotografia de Natália Brigas)
Ao contrário de todos os que apenas conseguem encontrar nas páginas do Facebook o maior livro da Humanidade, coisas ruins, dou comigo a encontrar gente de bem, gente de valor, gente que escreve bem, que fotografa bem, que divulga o que de melhor encontra em si - no que é, no que diz, no que faz. Pela primeira vez na nossa História, gente sem voz pode sair do espaço limitado e fazer-se ouvir pelo planeta inteiro. E há quem não goste disso. Em primeiro lugar, os donos da voz, os patrões da Comunicação Social e os seus executantes para quem as redes sociais são o fim do mundo. E têm razão - elas são o fim do seu mundo. Trata-se de uma revolução e já tivemos tempo de aprender que as revoluções não pedem licença. À socapa, envergonhados, vão espreitando e, para falarem tanto dessa nova Babel, estou em crer que, clandestinos, acabam por arranjar um perfil falso.
E permito-me citar os seguidores de Aristóteles: "Nihil est in intelectus quid prius non fuerit in sensus", i. e, "Nada está no intelecto que primeiro não tenha estado nos sentidos" ( a citação latina é, só, porque estive a avivar o meu latim com o curso que Frederico Lourenço deu - ora, vejam lá!, na sua página do Facebook), para com o socorro da autoridade do peripatético Aristóteles (que, se fosse hoje, teria imensos seguidores na sua página) e do clássico Frederico Lourenço, para concluir que "nada está no Facebook que não esteja na vida real". E esse nada é tudo: o ódio, a inveja, a maldade, a arrogância e vaidade, a cobardia ... e o seu contrário: o amor, a admiração, a humildade, a coragem.
Por isso, estar no Facebook é como estar na vida. Vemos o que queremos ver, encontramos o que procuramos. O que vale é o teu olhar, a tua escolha. O mal e o bem está no teu olhar.
Nota: Não era sobre isto que ia escrever, mas olhei para a fotografia, que tomo a liberdade de aqui publicar, encontrada na página do Facebook da Natália Brigas e derivei, mais uma vez, para o elogio. Ao amigo, não só do Facebook, João Afonso, apreciador e defensor do património local, mais uma vez, o meu obrigado por me ter conduzido à lagareta de Badamalos, uma preciosidade.
Sobre a lagareta, haverei de escrever em breve.
julmar, 08.01.21
Está concluída a primeira leitura do ano. Quando se trata de livros em que procuro solidez de razões e espírito científico, vou sempre à parte final do livro e espreito as notas e bibliografia. É aí que, rapidamente, avalio o trabalho que o autor teve a escrever o livro. Isso distingue bastante entre os livros feitos de palpites e opiniões e os livros que partem de fatos e da experiência.
Porquê este livro entre uma imensidade de livros? Porque o mundo está em envelhecimento, eu também e as duas coisas me interessam. Satisfeito porque o meu ikigai se encontra num nível elevado e, talvez a leitura do livro resulte em algum empreendimento pessoal/social.
julmar, 06.01.21
julmar, 05.01.21
Eu compreendo que pode ser inconveniente, pouco sensato, algo incómodo, até afrontoso proclamar o ano de 2020 um ano próspero e feliz, do ponto de vista pessoal. Sem que me considere um misantropo, não estou muito dependente do convívio social e os confinamentos impostos não me molestaram, antes me alargaram o tempo para ler e escrever e me incentivaram à remodelação completa do jardim, à transformação de uma parte do mesmo em horta, à repintura completa de um apartamento e da casa que habito. Alguém disse que um especialista é alguém que sabe cada vez mais sobre cada vez menos. Pois eu, talvez por ser filósofo praticante, sinto que sei menos sobre cada vez mais e sinto uma leve tristeza por não ter tempo para aprender e fazer outras coisas. Gosto do trabalho manual que, ao contrário do trabalho intelectual, se manifesta imediatamente como real, como um presente que se abre perante o olhar. Assim, gastei o tempo disputado entre leitura e escrita e jardinagem/horticultura e bricolage. Com o tempo a correr depressa demais, o dia que se acaba, o mês que termina e o ano que está preso por arames que,não tarda, partirá. E, apesar de tanta coisa feita, tanto que ficou por fazer.