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Badameco

Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

Badameco

Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

Andar passo a passo, mais devagar

Avatar do autor julmar, 25.10.20

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Desde Abril que não abria a aplicação 'Saúde' do Ipone que conta o andar dos passos.  Ainda não tinha tido coragem para o fazer. Ao olhar o gráfico, qualquer um diria que a causa foi o Covid 19. Eu sei que ele tem as costas largas e que passou a ser o Grande Bode Expiatório para todas as coisas ruins que acontecem. Acontece que no meu trajeto planeado de Alexandria à Cidade do Cabo, acompanhando as margens do rio Nilo, à medida que me aproximava de Kartum (Sudão), o joelho direito começava  a alertar-me com uma dor suave que se foi agudizando, que algo se passava. Passada a cidade, a dor foi crescendo e tive que parar num sítio onde Cristo não tinha passado e por onde, por agora, se passeia a sombra de Maomé. Agora, sim, entra o Covid: feita consulta médica e receitados exames ao joelho não havia nos hospitais agendamento para os realizar, pelo que só em finais de Julho fui operado ao menisco. Estou a terminar a fisioterapia e como se vê pelo gráfico há uma escala ascendente. Não vai chegar aos tempos doirados de 2019 com média diária de 12Km, mas vai chegar para cumprir o projeto de chegar à Cidade do Cabo, crendo no provérbio que 'DEVAGAR, SE VAI AO LONGE', passo a passo.

 

Eu, professor iniciante

Avatar do autor julmar, 14.10.20

Terra portuguesa

Corria o ano de 1973. Tinha, fresco na mão, um certificado que me dava como Bacharel. Necessitado de ganhar o pão nosso de cada dia, após demarches infrutíferas, entrei numa cabine telefónica pública, em Oliveira de Azeméis, telefonei para Escola Técnica de Vale de Cambra (uma extensão da Escola Industrial e O. De Azemeis de que era diretor Albertino Alves Pardinhas, um co-autor do livro da foto), à procura de trabalho. Que sim, que havia um horário, que passasse no dia seguinte, sem falta. Chegado a Vale de Cambra, pela primeira vez, recebeu-me o senhor Diretor, Dr Vide, que me deu um horário de 12 horas de História (3º, 4º e 5º anos) do ensino liceal (a funcionar pel 1ª vez em V. Cambra) e mais 17 horas de Português no ensino técnico noturno (várias turmas e vários programas). Atrapalhado, perguntei: - Senhor director, Português e História, 29 horas semanais? Não seria melhor ficar só com uma das partes? Olhando, para mim: - Vai ficar com tudo. Vai ver que vai ganhar um bom dinheirinho! E, sem mais, passou a dar-me indicações muito práticas sobre a classificação dos alunos. Entregou-me duas cadernetas onde constavam todos os alunos e turmas. Tirou da gaveta uma esferográfica Bic que já não escrevia e explicou-me com isso como tinha que fazer os pontos que entregaria ao funcionário para fazer a duplicação. Assinei a tomada de posse e comecei, no dia seguinte, a minha vida de professor, em tempo de ditadura que, chegada a Primavera, haveria de acabar.    

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As lamentações de Salazar

Avatar do autor julmar, 14.10.20

Voltando à Seleta do meu 3º ano - Alma Pátria, Pátria Alma. Mensagem: deixa-te estar na tua terrinha que nem sabes o bem que tens. 

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Depois de elogiar a vida do campo, a família, a casa rural, Fialho de Almeida um dos escritores com mais textos nesta Seleta Literária, termina:

"Por isso eu te lamento, o lisboeta ovelha desgarrada que já te não lembras da casa em que nasceste, do sítio em que o teu pai morreu, ou em que teu filho soltou o primeiro vagido. Bicho de acaso, sem pátria na cidade onde a miséria te calca, como as tuas alegria são efémeras, por falta de um lar entre cuja paredes se te concentra a felicidade!

Embalde tu me virás ensinar a tua nova residência -Pampulha, 48, repenicadas… Mas, homem sem casa, foragido eterno, tu nunca hás de saber verdadeiramente o que é morar."

 

 

Os livros que nos (de)formaram

Avatar do autor julmar, 13.10.20

HOCOKA: Livro de Leitura da 3ª Classe

Pego o livro nas mãos e não há texto de que me não recorde. Gostava de ler, gostava de aprender. Eu ainda não sabia que havia outros livros, outras leituras e outras ideias. Por isso, gostava destas. Os textos moldavam-se ao mundo em que vivíamos: a família, os trabalhos do campo, o louvor da terra, dos rios, das serras, da pátria e dos seus governantes e heróis e da doutrina cristã aprendida na catequese e na escola. Eles davam cumprimento inteiro ao provérbio 'de pequenino é que se torce o pepino'

Primeiro texto

A PÁTRIA

Menino, sabes o que é pátria? A pátria é a terra em que nascemos, a terra em que nasceram os nossos pais e muitas gerações de portugueses como nós. É nossa Pátria todo o território sagrado que Dom Afonso Henriques começou a Talhar para a nação portuguesa, que tantos heróis defenderam com o seu sangue ou alargaram com sacrifício da suas vidas. É a terra em que viveram e agora repousam esses heróis, a par de Santos e da sábios, de escritores e de artistas cereais.  A pátria é a mãe de todos nós - os que já se foram, os que vivemos e os que depois de nós onde vir. Na pátria está, meu menino, a casa em que vieste a luz do dia, o regaço materno que tantas vezes te embalou, aldeia ou a cidade em que tu né crescestes, escola onde melhor te ensinam a conhecê-la e a amá-la e a família e as pessoas que te rodeiam. Na pátria estão os campos das ricas searas, os prados verdejantes, os bosques sombreados, as vinhas de cachos negros ou cor de ouro os montes com suas capelinhas brancas votivas ...»

Como fui mal educado

Avatar do autor julmar, 12.10.20

Ora, se eu não tivesse desaprendido o que me ensinaram, se eu não tivesse aprendido a duvidar e a desobedecer, se eu tivesse sido fiel e respeitador ... eu não era quem sou. Há virtudes (?) de que desconfio (llealdade, fidelidade, obediência) e paixões triste que desprezo. Hoje, ao olhar para esta antologia de textos, vejo bem quão mal educado fui. Eu era apenas uma criança que queria aprender e eram estes textos que me davam! 

Apreciem a nota à primeira edição.

«Surge Alma - Pátria Alma em substituição de Alma Portuguesa. Só no título, porém, há diferença. O livro não mudou. Com várias edições - sempre teve feições bem definidas. Alterá-lo muito seria renegá-lo, e os autores a si mesmos se negariam. Crêem eles que inculcar na juventude certas verdades e princípios é sempre necessário, e sentem que no atual momento histórico ainda mais que em qualquer outra conjetura. Daí a alma que continua a encher o Alma. Daí o plano seguido. Daí a preferência por certos textos e certos autores, para que, por eles, essas verdades e esses princípios ajudei a formação portuguesa dos alunos. Não é, parece, contrariar a letra e o espírito do programa nas respetivas observações. (...)

Propositadamente os trechos  podem ser, e são, agrupáveis, segundo os temas Pátria, Família e Deus - verdades de sempre. No entanto, a obra, neste primeiro volume (pois ele continua a ser feita esta referência), é bem variada. Dentro dessa temática, se houvesse que formar subdivisões, logo que o primeiro dos temas (por exemplo), poderíamos considerar: território, terra, céu, paisagem, habitantes (lar, amor da família) história, a comunidade luso-brasileira, e mais e mais. Também aos organizadores desta Selecta pareceu de interesse apresentar aos alunos o mesmo assunto tratado por mais que um escritor já em prosa, já em verso, excelente exercício do confronto, aliás, nas próprias observações ao programa. E agora, nesta edição, o ultramar literário português aparece-me representado. Não quanto, nem como os organizadores desta Selecta desejariam. Mas a literatura, nascida e publicada no Portugal-de-Além, não é, por hora, em sua maior parte, condicente os fins que este livro tem em mira.»