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Nos bancos da escola que eu frequentei, fui muito mal educado. Não porque eu me portasse mal que no incumprimento da regra, cívica ou escolar, a régua impunha a ordem. Nenhum erro sem castigo era o norte de quem mandava. Foi assim que, a bem ou a mal, entre outras matérias aprendidas na História. Da História de Portugal não se estudava a mais recente, relativa à instauração da República, porque isso incomodava o regime; da História , dita Universal, os professores nunca tempo para ' adr a matéria da Idade contemporânea. Ocorreu-me isto ao ler este autor, com quem não me encontrava, desde a leitura do livro “Identidades Assassinas”, um autor da minha geração, geração que viveu, vive numa época extraordinária. São 70 anos de História! É um prazer, agora com tempo e algum distanciamento nãó apenas temporal, ver como vivemos esses acontecimentos.
Aqui deixo um extrato dos acontecimentos por volta de 1979.
O que me saltou claramente à vista, ai revisitar a atualidade do passado, foi que se deram, por volta de 1979, acontecimentos determinantes, cuja importância me passou despercebida na época.
Provocaram, em todo mundo, uma espécie de “viragem “ duradoura das ideias e dos comportamentos. A sua proximidade temporal não resultou certamente de uma ação consertada mas também não foi fruto do acaso. Diria antes que se tratou de uma “conjunção” . Foi como se tivesse chegado o pico de uma nova “estação” e a suas flores desabrochassem em 1000 lugares ao mesmo tempo. Ou como se o “espírito do tempo “ estivesse informar-nos sobre o final de um ciclo ciclo e o início de outro. Este conceito, forjado pela filosofia alemã com a designação de Zeitgeist, é menos fantasmagórico do que parece; é, até, fundamental para se compreender o desenrolar da história. Todos aqueles que vivem numa mesma época influenciam- se uns os aos outros, de maneira diversa e sem que habitualmente sejam conscientes disso. As pessoas copiam-se, imitam se macaqueiam- se, adaptam suas atitudes prevalecentes, por vezes em modo de contestação. E em todas as áreas —Na pintura, na literatura, na filosofia, na política, da medicina, bem como no vestuário, no aspecto ou no penteado. É difícil definir os meios pelos quais o referido espírito se difunde e impõe, mas é inegável que funciona, em todas as épocas, com uma eficácia implacável.E, nesta era de comunicação massiva e instantânea, as influências propagam-se muito mais rapidamente do que no passado. Habitualmente, o espírito do tempo age sem que as pessoas se apercebam. Contudo, o seu efeito é por vezes tão manifesto que a sua intervenção quase se torna visível em tempo real. Em todo o caso, foi essa a sensação que tive eu ao voltar a debruçar-me sobre história recente, para tentar retirar dela alguns ensinamentos. Como foi possível que me passasse despercebida uma conjuntura tão forte entre os acontecimentos? Há muito tempo que deveria ter chegado à conclusão que agora me salta à vista, ou seja, de que acabamos de entrar numa era eminentemente paradoxal, na qual a nossa visão do mundo iria transformar-se e, até, inverter-se. Doravante,
seria o conservadorismo e proclamar se revolucionário enquanto o objetivo dos adeptos do progressismo e da esquerda passaria a ser apenas a manutenção dos direitos adquirido
s. Nas minhas notas pessoais comecei a mencionar “um ano de inversão” ou por vezes, um ano de grande viragem, e a recensear os factos marcantes que parecem justificar tais designações. São muitos irei referir alguns ao longo destas páginas. Contudo, há dois que considero particularmente emblemáticos: a revolução islâmica proclamada no Irão pelo auatola Khomeini em fevereiro de 1979, e a relação conservadora levada a cabo no Reino Unido pela primeira ministra Margaret Thatcher, a partir de maio de 1979.
Existe um mar de diferença entre os dois acontecimentos, tal como entre os dois conservadorismos. E também obviamente, entre as duas personagens-chave; Para encontrar na história de Inglaterra algo equivalente ao que aconteceu no Irão com com Khomeini seria necessário recuar até a época de Cromwell, na qual revolucionários regicidas eram igualmente puritanos e messiânicos. No entanto, existe, entre as duas sublevações, uma certa semelhança que não se resume a proximidade das datas. Em ambos os casos, ergue-se o estandarte da revolução em nome da força sociais e doutrinas que haviam sido até então, as vítimas ou, pelo menos, os alvos das revoluções modernas: num dos casos, os adeptos da ordem moral e religiosa; no outro, os adeptos da ordem económica e social. Cada uma destas duas relações iria ter repercussões importantíssimas a nível planetário. As ideias da senhora Thacher iriam chegar rapidamente aos Estados Unidos, com eleição de Ronald Reagan para a presidência; enquanto a visão khomenista de um Islão simultaneamente insurrecional e tradicionalista, resolutamente hostil ao ocidente, iria propagar-se pelo mundo, assumindo formas muito variadas e afastando as abordagens mais conciliadoras.
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