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Badameco

Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

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Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

VANTAGENS DOS MANUAIS EM SUPORTE ELETRÓNICO

Avatar do autor julmar, 29.05.17

Num post anterior, prometi fazer um comparativo entre os manuais em suporte de papel e os manuais em suporte eletrónico. Optei por enumerar, apenas, algumas das vantagens dos manuais em suporte digital. Os apologistas dos manuais em suporte de papel que enumerem as respetivas vantagens. Algumas haverá.

  1. Pode chegar a doutor sem ser um burro carregado de livros

Um smartphone, ou para maior comodidade um tablet, pode ter 1/3 do peso  e do volume de qualquer manual em papel.

Nele poderá transportar mais livros do que os existentes na biblioteca maior que você conhece. Quantos livros cabem na pasta que leva para a escola e lhe dá cabo da saúde? Também dispensa levar cadernos para tirar notas e apontamentos ou papel para fazer testes.

  1. Se tiver necessidades educativas especiais

Se for amblíope pode aumentar o tamanho da letra. De todo o modo, pode colocá-la na dimensão mais confortável, escolher a cor da página,  um tipo de letra diferente e o brilho.

Se for cego pode ouvir o seu manual falar consigo, já para não falar das inúmeras aplicações para alunos com dificuldades de aprendizagem ou com diversos tipos de deficiência.

  1. Pode dar folga ao professor

O professor não tem que lhe  dar toda a informação e  explicar tudo, nem avaliar os alunos, constantemente. Os manuais digitais são interativos, dando-lhes uma vantagem ímpar na aprendizagem: através de links, o aluno pode aceder a páginas de autores, sites, músicas, vídeos, fóruns de discussão, artigos gerais e especializados. Poderá pesquisar no Google, sem sair do lugar, o significado de palavras ou ter uma primeira abordagem, na maior de todas enciclopédias, o Wikipédia.

Os manuais podem ser atualizados, automaticamente, sem custos.

4.São mais baratos (muito mais) e, muitos deles, são de graça.

Deixando de ser um objeto físico, o manual está, agora, ao nível do conhecimento: deixa de ter preço. O conhecimento, mesmo partilhado,  continua, inteiramente, na sua posse.

Os melhores livros (história, filosofia, arte, religião, literatura…) que, até hoje, se escreveram,  como os clássicos, são de graça, porque a cultura é um bem inesgotável.

 5. São amigos da natureza

Grande parte das florestas são transformadas em pasta de papel para fazer livros. Agora, podemos poupar a Natureza.

 6. Não se deterioram, não se perdem e ninguém os rouba

Deixará de ouvir os professores, os pais e até o ME a recomendar respeito pelos manuais e a ameaçar com o pagamento de coimas. Pode fazer comentários e rabiscar à vontade.

E, se o dispositivo quebrar, relaxa: poderá baixar todos os livros de novo. É só conectar à conta da loja!

 7.Faltas de material

Bom! Acaba o drama do aluno que, no meio de cadernos vários, lápis e esferográficas e mais não sei quantos manuais, se esqueceu de qualquer coisa. E as eternas questiúnculas: marcar falta, onde, qual o limite, qual a sanção, como se comunica ao Encarregado de Educação? Deve constar no R.I.? Um tratado legislativo-penal tornado inútil. Porque há uma coisa de que nenhum aluno esquece: o smartphone. E está tudo lá!

Os manuais escolares: Em suporte de papel ou em suporte eletrónico?

Avatar do autor julmar, 26.05.17

Hoje enquanto tomava o meu café, dois rapazinhos de nove anos, sentadas ao meu lado, divertiam-se cada um com o seu smartphone. Peguei conversa com eles, medindo a reação: - Pois, vocês hoje ficaram muito tristes por não terem aulas! (greve na Função Pública). Caçoaram comigo: - Sim,sim. Ficámos banhados em lágrimas!

E lá continuaram mostrando um ao outro um jogo e os níveis que já tinha atingido. Esta será uma geração que vai ter uma relação com o saber completamente diferente da dos seus professores. Pena é  que o ME,  a escola e os seus professores não favoreçam e orientem, desde já, as mudanças que são inevitáveis, que não favoreçam, obstaculizem ou se recusem a utilizar meios com uma eficiência incomparável aos suportes tradicionais. Os suportes, a forma de produção e difusão da informação (a invenção da escrita, a descoberta da imprensa de Gutemberg, a televisão) provocaram autênticas revoluções. Nenhuma delas teve um potencial tão grande como as novas tecnologias de informação e comunicação. A sala de aula continua, a maior parte das vezes, a funcionar como se nada estivesse a acontecer ou quando muito a utilizar parte das novas tecnologias apenas como substitutas das anteriores: o quadro interativo  a substituir acetatos ou projetor de slides, conservando, assim, um modelo de ensino centrado na informação que o professor escolhe e expõe a todos os alunos, mudando um bocadinho para tudo ficar na mesma. Por vezes, quando os professores ousam ir mais além e não dominam, suficientemente, as novas tecnologias fica pior a emenda do que o soneto. Cada professor faz apenas aquil que sabe e o melhor que sabe, é, quase sempre, o modelo que lhe serviu enquanto aluno. A escola na sua organização, à parte a parte administrativa, continua a ser aquilo que sempre foi. O ministério faz o que sabe fazer: remendar. As escolas reclamam autonomia mas é coisa que não estão em condições de fazer dela um exercício sério.

O ùnico projeto que houve de introdução das novas tecnologias nas escolas aconteceu no primeiro governo de Sócrates: Criação de uma infra-estrutura de redes, de computadores e instalação de Quadros Interativos nas salas de aulas e uma formação extensiva a todos os professores. No primeiro ciclo houve a distribuição de computadores aos alunos, uma medida importante que os opositores denegriram e ridicularizaram. 

Deambulei por tudo isto, quando o que me moveu a esta escrita foi uma notícia lida num diário sobre as multas que seriam aplicadas aos encarregados de educação caso os manuais a entregar no final do ano letivo não estivessem em condições. E lembrei-me do tempo em que era professor e em que também fazia a avaliação do uso que os alunos davam aos manuais. No dia do teste, era já uma rotina, os alunos colocavam o seu manual na minha secretária. Enquanto faziam o teste, um por um avaliava-os a todos: Livro que estivesse virgem tinha a pior classificação; livro que estivesse bem sublinhado, bem anotado, digamos todos os indícios de que ali se trabalhara teria uma boa classificação. Ensinar técnicas de estudos, entre as quais se contava o bom uso do manual era matéria das primeiras aulas. Se fosse hoje não me livraria de que os pais me remetessem as coimas para eu pagar. Mas, então, não é ridículo pedir a alguém que trabalha que não desgaste ou não use a ferramenta, que a poupe para quem vem a seguir?

Continuo a não perceber por que é que o suporte da informação tem de ser em papel. Sim, eu também gosto de livros de papel (tenho uns bons milhares), gosto deles como objetos físicos, gosto de os folhear, dos mais antigos  em que aprecio o cheiro caraterístico. Como gosto de objetos artesanais. Hoje também já tenho milhares de livros em suporte eletrónico (ebooks) e se preciso de uma obra de Aristóteles, de Descartes ou de Kant, da Bíblia ou do Corão já não preciso de ir à estante. Hoje já não estou com tempo nem disposição, mas um dia destes faço um quadro comparativo das vantagens e desvantantagens da utilização de um manual em suporte eletrónico e de um manual em suporte de papel. Se quiser, faça esse exercício.

 

Aprendendo com as fábulas de Jean de La Fontaine: O amor e a loucura

Avatar do autor julmar, 24.05.17

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"Contam que uma vez se reuniram todos os sentimentos e qualidades dos homens em um lugar da terra. Quando o ABORRECIMENTO havia reclamado pela terceira vez, a LOUCURA, como sempre tão louca, lhes propôs:

- Vamos brincar de esconde-esconde?

A INTRIGA levantou a sobrancelha intrigada e a CURIOSIDADE sem poder conter-se perguntou:

- Esconde-esconde? Como é isso?

- É um jogo, explicou a LOUCURA, em que eu fecho os olhos e começo a contar de um a um milhão enquanto vocês se escondem, e quando eu tiver terminado de contar, o primeiro de vocês que eu encontrar ocupará meu lugar para continuar o jogo.

O ENTUSIASMO dançou seguido pela EUFORIA.

A ALEGRIA deu tantos saltos que acabou pôr convencer a DÚVIDA e até mesmo a APATIA, que nunca se interessavam pôr nada. Mas nem todos quiseram participar.

A VERDADE preferiu não esconder-se. "Para que, se no final todos me encontram?

A SOBERBA opinou que era um jogo muito tonto (no fundo o que a incomodava era que a idéia não tivesse sido dela).

A COVARDIA preferiu não arriscar-se. - Um, dois, três, quatro... - começou a contar a LOUCURA.

A primeira a esconder-se foi a PRESSA, que como sempre caiu atrás da primeira pedra do caminho.

A FÉ subiu ao céu e a INVEJA se escondeu atrás da sombra do TRIUNFO, que com seu próprio esforço tinha conseguido subir na copa da árvore mais alta.

A GENEROSIDADE quase não consegue esconder-se, pois cada local que encontrava, lhe parecia maravilhoso para algum de seus amigos. Se era um lago cristalino, ideal para a BELEZA. Se era a copa de uma árvore, perfeito para a TIMIDEZ. Se era o voo de uma borboleta, o melhor para a VOLÚPIA. Se era uma rajada de vento, magnífico para a LIBERDADE. E assim acabou escondendo-se em um raio de sol.

O EGOÍSMO, ao contrário, encontrou um local muito bom desde o início. Ventilado, cómodo, mas apenas para ele. A MENTIRA escondeu-se no fundo do oceano (mentira, na realidade, escondeu-se atrás do arco-íris). E a PAIXÃO e o DESEJO, no centro dos vulcões.

O ESQUECIMENTO, não recordo-me onde escondeu-se, mas isso não é o mais importante.

Quando a LOUCURA estava lá pelo 999.999, o AMOR ainda não havia encontrado um local para esconder-se, pois todos já estavam ocupados, até que encontrou uma roseira e, carinhosamente, decidiu esconder-se entre suas flores.

A primeira a aparecer foi a PRESSA, apenas a três passos de uma pedra.

Depois, escutou-se a FÉ discutindo com Deus, no céu, sobre zoologia.

Sentiu-se vibrar a PAIXÃO e o DESEJO nos vulcões.

Em um descuido, a LOUCURA encontrou a INVEJA e claro, pôde deduzir onde estava o TRIUNFO. O EGOÍSMO, não teve nem que procurá-lo: ele sozinho saiu disparado de seu esconderijo, que na verdade era um ninho de vespas.

De tanto caminhar, a LOUCURA sentiu sede e ao aproximar-se de um lago, descobriu a BELEZA. A DÚVIDA foi mais fácil ainda, pois a encontrou sentada sobre uma cerca sem decidir de que lado esconder-se.

E assim foi encontrando a todos.

O TALENTO entre a erva fresca, a ANGÚSTIA em uma cova escura, a MENTIRA atrás do arco-íris (mentira, estava no fundo do oceano) e até o ESQUECIMENTO, que já havia esquecido que estava brincando de esconde-esconde.

Apenas o AMOR não aparecia em nenhum local.

A LOUCURA procurou atrás de cada árvore, embaixo de cada rocha do planeta e em cima das montanhas. Quando estava a ponto de dar-se pôr vencida, encontrou um roseiral. Pegou uma forquilha e começou a mover os ramos, quando, no mesmo instante, escutou-se um doloroso grito. Os espinhos tinham ferido o AMOR nos olhos.

A LOUCURA não sabia o que fazer para desculpar-se. Chorou, rezou, implorou, pediu perdão e até prometeu ser seu guia.

Desde então, desde que pela primeira vez se brincou de esconde-esconde na Terra, o AMOR é cego e a LOUCURA sempre o acompanha."

 

Jean de LA FONTAINE (1621-1695)

O Cérebro idiota

Avatar do autor julmar, 22.05.17

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"Duas coisas me enchem a alma de crescente admiração e respeito, quanto mais intensa e frequentemente o pensamento delas se ocupa: o céu estrelado sobre mim e a lei moral dentro de mim" I. Kant

Admiro e respeito muito os meus mestres, deles recebi ensinamentos do melhor que até hoje a humanidade produziu. Kant foi um deles e com quem aprendi algo de fundamental que se poderia traduzir na pergunta: como é que nós representamos o mundo? Especulativamente, apenas por especulação, tentou compreender como é que nós conhecemos, o que é que podemos conhecer, chegando à conclusão que apenas podemos conhecer fenómenos, isto é, a apreensão do mundo por nós, mas não o conhecimento do mundo em si, ou seja, do mundo noménico. 

Outro dos mestres, foi Sócrates e dele retive sempre a recomendação " Conhece-te a ti mesmo". Esse conhecimento é para quem quer construir o conhecimento o princípio, sem o qual nada fica garantido. Todos os filósofos acabam por fazê-lo. O meu mestre Descartes, fê-lo no "Discurso do Método", contando a história do saber examinando tudo quanto aprendera até então e de tomar a decisão de pôr tudo em dúvida. Toda a verdadeira filosofia começa por aí para depois escolher um caminho, um método. Também Bachelard e outros epistemólogos apelam à necessidade de rejeitar o falso saber sobre o qual não pode assentar nada de válido. Numa outra dimensão, o que nos ficaria de Santo Agostinho, sem a sua obra :"As Confissões"?

Porém, esses filósofos trabalhavam com o que tinham: Os sentidos e a razão. Não tinham nem microscópios nem telescópios, nem computadores, nem imagiologia e todo um conjunto de ferramentas que nos ajuda a ver o invisível, a medir, registar dados inimagináveis. Por isso, o nosso corpo e, particularmente o nosso cérebro, uma estrutura material que suporta os nossos pensamentos, sentimentos, emoções, crenças é hoje conhecida não de forma especulativa mas de uma forma científica.

E se o nosso cérebro é uma aquisição recente no desenvolvimento evolutivo do homem, é ele que, doravante, começa a comandar essa mesma evolução. E, por isso, é mais importante que nunca o " Conhece-te a ti mesmo".

Sendo que se trata de um comandante que todos temos,  a sua leitura é importante, para que não sejamos apanhados pelas suas idiotices.