Ao longo dos anos, por falta de tempo e de dinheiro, muitos livros ficaram por ler. Agora o dinheiro deixou de ser problema porque uma boa parte dos livros, de bons livros, existe em suporte eletrónico - os ebooks - e gratuito, como é o caso da presente obra. Quanto ao tempo, agora é todo meu e procuro aproveitá-lo o melhor que posso e sei, como é o caso desta obra extraordinária.
O Panóptico é uma máquina maravilhosa que, a partir dos desejos mais diversos, fabrica efeitos homogéneos de poder. Uma sujeição real nasce mecanicamente de uma relação fictícia. De modo que não é necessário recorrer a força para obrigar o condenado ao bom comportamento; o louco à calma; o operário ao trabalho; o escolar à aplicação; o doente à observância das receitas. Bentham se maravilha de que as instituições pa nópticas pudessem ser tão leves: fim das grades, fim das correntes, de fim das fechaduras pesadas: basta que as separações sejam nítidas e as aberturas bem distribuídas. O peso das velhas "casas de segurança", com sua arquitetura de Fortaleza, é substituído pela geometria simples e económica de "uma casa de certeza". A Eficácia do poder, sua força limitadora, passaram, de algum modo, para o outro lado — para o lado da sua superfície de aplicação. Quem está submetido a um campo de de visibilidade e sabe disso retoma por sua conta as limitações do poder, fa-las funcionar espontaneamente sobre si mesmo; escreve em si relação de poder na qual ele desempenha simultaneamente os dois papéis; torna-se o princípio da sua própria sujeição. Em consequência disso mesmo, o poder externo, por seu lado, pode se aliviar do seus fardos físicos; tende ao incorpóreo; e quanto mais se aproxima desse limite, mais esses efeitos são constantes, profundos, adquiridos em carácter definitivo e continuamente recomeçados: Vitória perpétua que evita qualquer defrontamento físico e está sempre decidida por antecipação. Pg 226