Revisitando Aristóteles
julmar, 21.07.16
Quanto mais lemos Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.) mais aumenta a nossa admiração pela sua obra. Pela sua extensão e pela sua qualidade. Organizar, compreender e explicar o ser em todas as sua manifestações, com os meios existentes à época é algo de extraordinário: Metafísica, Cosmologia, Física, Biologia, Lógica, Gramática, Retórica, Psicologia, Ética, Política, História dos Animais ... não é para qualquer um. Bem tentam mexer na gramática, dar nomes diferentes às coisas, mas o que prevalece sempre é a gramática fundada por Aristóteles. A Física de Aristóteles nada tem hoje que cientificamente se aproveite. Porém, é de uma beleza ímpar, e, no dia-a-dia, é a que utilizamos. Ainda continuamos a ver o mundo e a vida com os olhos de Aristóteles.
«A julgar pela vida que os homens levam em geral, a maioria deles, e os homens de tipo mais vulgar, parecem (não sem um certo fundamento) identificar o bem ou a felicidade com o prazer, e por isso amam a vida dos gozos. Pode-se dizer, com efeito, que existem três tipos principais de vida: a que acabamos de mencionar, a vida política e a contemplativa. A grande maioria dos homens se mostram em tudo iguais a escravos, preferindo uma vida bestial, mas encontram certa justificação para pensar assim no fato de muitas pessoas altamente colocadas partilharem os gostos de Sardanapalo2
Ora, nós chamamos aquilo que merece ser buscado por si mesmo mais absoluto do que aquilo que merece ser buscado com vistas em outra coisa, e aquilo que nunca é desejável no interesse de outra coisa mais absoluto do que as coisas desejáveis tanto em si mesmas como no interesse de uma terceira; por isso chamamos de absoluto e incondicional aquilo que é sempre desejável em si mesmo e nunca no interesse de outra coisa.
Ora, esse é o conceito que preeminentemente fazemos da felicidade. É ela procurada sempre por si mesma e nunca com vistas em outra coisa, ao passo que à honra, ao prazer, à razão e a todas as virtudes nós de fato escolhemos por si mesmos (pois, ainda que nada resultasse daí, continuaríamos a escolher cada um deles); mas também os escolhemos no interesse da felicidade, pensando que a posse deles nos tornará felizes. A felicidade, todavia, ninguém a escolhe tendo em vista algum destes, nem, em geral, qualquer coisa que não seja ela própria ; mas fazê-lo à pessoa que convém, na medida, na ocasião, pelo motivo e da maneira que convém, eis o que não é para qualquer um»