Mais uma coisa inútil trazida de cadernos onde se faziam anotações e textos sem tom nem som, para resistir à inutilidades, vulgaridades, banalidades e conversas da treta de gente ministerial que explicava medidas educativas e paradigmas que haviam de trazer o sucesso aos alunos, o bem estar aos professores e a riqueza à nação.
Podemos dizer que a escola mudou. Podemos dizer que a escola não mudou. Para uma e outra proposição se podem arranjar razões válidas. A escola mudou pelas boas intenções dos políticos que quiseram tornar a educação universal e obrigatória. Primeiro a terceira classe, depois a quarta classe, depois o 6º ano; depois 15 anos (nono ano, se possível); finalmente 18 anos ( 12º ano, se possível). A ideia subjacente é a de que os cidadãos educados e instruídos serão melhores cidadãos e que a desigualdade social e económica se dissipará, numa igualdade de oportunidades assim oferecida. Bem cedo se verificou que a igualdade de oportunidade de acesso não se traduzia numa oportunidade de sucesso. Bem cedo se verificou que para o conseguir eram necessárias medidas de apoio que cedo se verificou resultarem em nada; procurou-se simplificar os curriculos, acabar com exames (introduzir a avaliação contínua, privilegiar os processos, o esforço em vez dos resultados, introduzir escalas curtas onde as diferenças se esbatessem, diminuir o grau de exigência, aumentar os apoios pedagógicos acrescidos, estabelecer planos de recuperacão, delinear territórios educativos de intervenção prioritária com equipas multidisciplinares; à medida que os alunos iam aprendendo cada vez menos, iam-se comportando cada vez pior e na mesma medida os professores desistiam cada vez mais de ensinar para cada vez mais os tentar fazer aceitar regras e disciplina. Ate que se chegou a uma descoberta muito importante: os meninos portam-se mal, não sabem como estudar e é necessário que aprendam não porque os professores ensinam mas porque imaginativa e cooperativamente são capazes de construir o próprio saber e daí a legislar em conformidade foi um breve passo. E sai a trindade que milagrosamente há-de resolver, de uma assanhada, o problema dos insucedidos e dos indisciplinados: Educação Cívica, Estudo Acompanhado e Área de Projecto. E começou a proclamar-se "se não conseguimos tirá-los da ingorância, conseguiremos torná-los em obedientes cidadãos". E qualquer professor ainda que incompetente para atingir os objectivos na matéria da sua especialidade com os alunos, era considerado competente para os atingir na matèria para que nunca havia sido ensinado, no pressuposto de que na universidade da vida e onde se treinam a cidadania, a estratégia e a criatividade. Mesmo que, na prática, se não cumpra o dever, se ignore o método científico e o projecto não ultrapassa o jogo do fim de semana. E sempre na conveniência da confeccional alfaiataria dos horários
e de que se se é professor se tem, por inerência, competência nas referidas áreas.
Parece elementar que o professor de cada matéria escolar ao ensiná-lá de maneira explícita ou não conduza o aluno ao método adequado da sua apreensão e domínio. Como poderei ensinar filosofia sem ao fazê-ló mostrar como se estuda? Como se pode separar o método e as técnicas de estudo sem ser a estudar alguma coisa? Como ensinar o caminho sem definição de aonde se quer chegar?
De igual modo a Formação Cívica. Há coisas que se aprendem mas não se ensinam formalmente. Não se ensinam em sala de aula.