O Direito de Sonhar, Gaston Bachelard
julmar, 29.09.15
Quem ama a pintura bem sabe que a pintura é uma fonte de palavras, uma fonte de poemas.
Há livros que são como algumas pinturas - ao olhar de novo para elas, encontramos sempre algo que não nos aperceberamos, encontramos, de cada vez, um prazer maior. Há livros que não são para ler mas para reler. São como músicas que contamos voltar a ouvir: sempre, uma vez mais.
Há muito que Bachelard me inspirava de modo diferente de todos os outros filósofos; há muito que me sentia reconhecido por me ter proporcionado aprender um discurso diferente sobre o mundo e a descodificar os discursos que sobre o mundo se fizeram; há muito que eu suspeitava que a poesia e a filosofia sondavam a mesma realidade, suspeita tornada certeza com a leitura de Bachelard. Por isso, decidi que ele é o filósofo da minha vida, o primeiro da minha lista, no momento em que releio “O Direito de Sonhar”e descubro tudo isso nas suas próprias palavras.
Assim, ao contemplar as gravuras de Flocon, um filósofo não apenas se conta histórias, mas se compraz ao admirar nelas uma filosofia ilustrada. Então, ao trabalho! Em muitas pranchas Flocon talha, lajeia, Flocon monta andaimes. Um dia lhe pedi uma cela de filósofo — e ele me fez um escritório de arquiteto. Ele crê — não está tão errado — que pensar é construir. Crê que gravar é construir. Sabe o que é um tempo que trabalha e um espaço que é trabalhado. Gosta de apreender oinstante da construção, em que a construção vai completar o projeto. É muito normal que tenha a impaciência do trabalhador, que "projete"' então um "castelo na Espanha'*.