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Badameco

Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

Badameco

Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

Um ano de papa Francisco

Avatar do autor julmar, 13.03.14

Em viagem, ouvindo o Forum na TSF, hoje sobre o ano de papado do papa Francisco. A maioria dos intervenientes com opiniões muito positivas; alguns que não discernem diferença com papas anteriores; alguns achando que fala muito e faz pouco. Por mim, pouco dado a admirar homens, admiro o papa e o coloco-o ao lado de grandes líderes espirituais como Gandi, Luther King, Mandela e, pouco católico, tenho-o como modelo. Eu que em casa, a brincar, peço silêncio quando na TV se fala do Sporting, dei comigo a levantar o som quando o papa fala ou quando dele se fala. Aos que dizem que ainda não fez nada, aconselho a leitura do Evangelium Gaudi e sejam pacientes que o papa é-o apenas há um ano.

Os «almas de cevada», os «almas do diabo», os «almas danadas» - Afonso Leonardo

Avatar do autor julmar, 10.03.14

Desde pequeno que na doutrina (na catequese) se aprendia que o homem se distinguia dos animais por ter uma alma e dos cuidados que se deviam ter para que não se perdesse, para que não se conspurcasse, porque a salvação dependia da brancura em que se encontrava na hora de abandonar o corpo. E a vida transformava-se numa luta entre a carne e o espírito e, por norma, tudo quanto sabia bem era pecado. Impossível não cair na tentação. Mas Deus, na sua infinita bondade, criou na terra um exército - os padres – de luta contra o pecado, quer para o prevenir ou para a o extinguir quando a prevenção falhasse: confissões, penitências mortificações, cilícios, abluções, cinzas, águas bentas, asperges, juras, promessas, sermões, rezas, persignações, procissões, contribuições, indulgências, bulas, jaculatórias, comunhões, extremas -unções, bens de alma, vénias e genuflexões – tudo sob administração do Bispo de Roma, representante de Deus na Terra e a quem, por isso, compete levar a cabo a maior das missões, melhor dito, a única missão do homem na terra – salvar a sua alma. Tudo o mais é vaidade e vento que passa. Claro que a cada homem (um amigo meu, machista que é, dizia que as mulheres deveriam ter dois) lhe foi colocado, do seu lado direito, um Anjo da Guarda. Mas como eram necessários muitos, Deus teve de fazer recrutamentos apressados e muitos deles não tinham grande formação mostrando séria dificuldade em distinguir o bem do mal e consequente aconselhar indevido. Anjinhos que eram, também lhes faltava a experiência da vida e como «os filhos das trevas são mais espertos que os filhos da luz», acontecia que os anjos pertencentes ao exército de Lúcifer quase sempre levavam a melhor sobre os anjinhos. Mas como o sistema não podia viver sem o pecado – desde que não fosse tão extensivo que tudo ficasse reduzido a ele – também não havia interesse em que os anjos da Guarda fossem tão diligentes que deixasse de haver pecadores. Era como acabar com a matéria-prima do sistema, era como matar a galinha de ovos de oiro. Houve um político que comparou este estado de coisas à Guerra Fria, um equilíbrio em que Deus e O Diabo entenderam que cada um deles não podia acabar com o outro sem acabar consigo próprio. Claro que os argumentos usados na defesa deste estado de coisas tinham de ser capciosamente apresentados às almas na terra cujo destino ignoravam. O Diabo tinha sempre uma enorme vantagem sobre o que se defendera ou se viria a defender dado ser o princípio do mal, quanto pior melhor. Se não havia sentido ainda bem. Ou ainda mal. Ou as duas coisas ou nenhuma desde que fosse mal. Também não tinha que explicar coisíssima nenhuma! Deus que explicasse como era, que a ele só lhe competia fazer o contrário. Claro que Lúcifer entendia, na perfeição, (certamente Deus não lhe ganhava em ciência, embora Lúcifer lhe tolere a vaidade de se dizer omnisciente) que o poder não podia ser absoluto e, por isso, diplomaticamente se entendiam acerca do bem e do mal a distribuir aos homens. Quando uma das partes se excedia (Sodoma e Gomorra, a destruição da Torre de Babel, o Dilúvio) parecia que tudo iria acabar. Mas não. Lá se arranjava uma história nova que pudesse ser aceite por todos.

Sim, há sempre uma história nova.

 

O amor - autor desconhecido

Avatar do autor julmar, 08.03.14

Diz a lenda que o Senhor, após criar o homem e não tendo mais nada sólido para construir a mulher, tomou um punhado de ingredientes delicados e contraditórios, tais como timidez e ousadia, ciúme e ternura, paixão e ódio, paciência e ansiedade, alegria e tristeza e assim fez a mulher e a entregou ao homem como sua companheira.

Após uma semana, o homem voltou e disse:

Senhor, a criatura que você me deu faz a minha vida infeliz.

Ela fala sem cessar e me atormenta de tal maneira que nem tenho tempo para descansar.
Ela insiste em que lhe dê atenção o dia inteiro... e assim as minhas horas são desperdiçadas.

Ela chora por qualquer motivo. Facilmente fica emburrada e fica às vezes muito tempo ociosa. Vim devolvê-la porque não posso viver com ela.

Depois de uma semana o homem voltou ao Criador e disse:

Senhor, minha vida é tão vazia desde que eu trouxe aquela criatura de volta! Eu sempre penso nela: em como ela dançava e cantava, como era graciosa, como me olhava, como conversava comigo e como se achegava a mim.

Ela era agradável de se ver e de se acariciar. Eu gostava de ouvi-la rir.

Por favor, devolva-me ela.

Está bem, disse o Criador. E a devolveu.

Mas, três dias depois, o homem voltou e disse:

Senhor, eu não sei. Eu não consigo explicar, mas depois de toda esta minha experiência com esta criatura, cheguei à conclusão que ela me causa mais problemas do que prazer. Peço-lhe, tomá-la de novo! Não consigo viver com ela!

O Criador respondeu:

Mas também não pode viver sem ela. E virou as costas para o homem e continuou o seu trabalho.

O homem desesperado disse:

Como é que eu vou fazer? Não consigo viver com ela e não consigo viver sem ela.

E arremata o autor: Achei que, com as tentativas, você já tivesse descoberto.

Amor é um sentimento a ser aprendido: É tensão e satisfação - É desejo e hostilidade - É alegria e dor - Um não existe sem o outro.

A felicidade é apenas uma parte integrante do amor. Isto é o que deve ser aprendido. O sofrimento também pertence ao amor. Este é o grande mistério do amor. A sua própria beleza e o seu próprio fardo.

Em todo o esforço que se realiza para o aprendizado do amor é preciso considerar sempre a doação e o sacrifício ao lado da satisfação e da alegria. A pessoa terá sempre que abdicar alguma coisa para possuir ou ganhar uma outra coisa.

Terá que desembolsar algo para obter um bem maior e melhor para sua felicidade.
É como plantar uma árvore frente a uma janela. Ganha sombra, mas perde uma parte da paisagem. Troca o silêncio pelo gorjeio da passarada ao amanhecer.


É preciso considerar tudo isto quando nos dispomos a enfrentar o aprendizado do amor.

 

 

Porque hoje é dia da mulher

Avatar do autor julmar, 08.03.14

(...)

E no longo capítulo das mulheres, Senhor, tende píedade das mulheres
Castigai minha alma, mas tende piedade das mulheres
Enlouquecei meu espírito, mas tende piedade das mulheres
Ulcerai minha carne, mas tende piedade das mulheres!

(...)

Tende piedade, Senhor, de todas as mulheres
Que ninguém mais merece tanto amor e amizade
Que ninguém mais deseja tanto poesia e sinceridade
Que ninguém mais precisa tanto de alegria e serenidade.

Tende infinita piedade delas, Senhor, que são puras
Que são crianças e são trágicas e são belas
Que caminham ao sopro dos ventos e que pecam
E que têm a única emoção da vida nelas.

Tende piedade delas, Senhor, que uma me disse
Ter piedade de si mesma e de sua louca mocidade
E outra, à simples emoção do amor piedoso
Delirava e se desfazia em gozos de amor de carne.

Tende piedade delas, Senhor, que dentro delas
A vida fere mais fundo e mais fecundo
E o sexo está nelas, e o mundo está nelas
E a loucura reside nesse mundo.

Tende piedade, Senhor, das santas mulheres
Dos meninos velhos, dos homens humilhados - sede enfim
Piedoso com todos, que tudo merece piedade
E se piedade vos sobrar, Senhor, tende piedade de mim
                                           (Vinicius de Morais - O desespero da piedade)