Para que a vida corra bem - a diligência
julmar, 04.10.13
Há dias, a pedido de um colega professor, fui dar um aula a uma turma do 12º ano de um curso profissional de Gestão Desportiva. Foi para mim agradável fazer aquilo que fiz vezes sem conta - ensinar. Ensinar com alma. O objeto da disciplina é a ética e deontologia desportiva. Tratava-se, pois, de abordar os conceitos fundamentais da ética, a começar por este mesmo. A minha primeira surpresa foi o fato de os alunos não disporem de qualquer material: nem livro, nem fotocópias, nem papel, nem lápis. Apenas olhos e ouvidos como quando vêem televisão. O colega fez a minha apresentação. Mais para a frente testei-lhes essa extraordinária memória que não precisa de apontar, escrever, marcar: Sabem como me chamo? Ninguém soube, porque nada é importante em quem apenas ouve.
Puxando por eles, nomeadamente, tentando situarmo-nos no objecto da ética com questões sobre o que gostam e o que desgostam, sobre os valores sobre os objetivos da suas vidas, sobre o que vale a pena, sobre o que queremos da vida, responde um aluno que o que queremos é «que a vida corra bem». Foi a partir desta expressão que tentámos ver o que era uma vida feliz, uma vida boa e como isso é fundamental para todo o homem. Claro que a diferença ética está, não esperar sentado à espera que a vida corra bem, mas na diligência que tomamos para o conseguir.
O que encontrei foi o oposto a negligência, isto é: incúria, falta de apuro, falta de atenção, indiferença, isto é, a falta de tudo aquilo que o ato da aprender exige. E não há que culpar os alunos que em 12 anos de escolaridade se encontram assim. Mas tem que se responsabilizar o Ministério, a escola, a família a quem compete o dever de educar.
Perguntei-lhes que livros até hoje haviam lido. Nenhum aluno até hoje leu qualquer livro. Tinha levado três que pretendia aconselhar a leitura:
1) Força para Amar, Martin Luther King, porque está no top ten dos meus livros e o li aos 17 anos, a idade deles.
2) Como Havemos de viver, Peter Sing - para aqueles que fossem mais audazes
3) Ética para um Jovem, Fernando Savater - livro que usava muito quando dava aulas.
Tenho a dizer que não se trata de uma turma mal comportada, antes pelo contrário. Mas é muito pouco e estes jovens merecem muito mais.
O que é uma escola onde não se escreve e onde não se lê (ou se faz apenas os mínimos)?
A vida boa não pode correr bem sem diligência