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Badameco

Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

Badameco

Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

Aprendendo com Hegel

Avatar do autor julmar, 29.05.13

Conhecer com fundamento é um caminho difícil. Hoje todos os espíritos, preguiçosos uns e interesseiros outros, estão empanturrados com a verdade. A dialéctica, que devia ser o caminho para a ela aceder, tornou-se num exercício mediático, numa luta verbal cheia de truques e rasteiras com transgressão das regras mais elementares do espírito racional.

 

E o modo mais habitual de enganar-se e de enganar os outros: pressupor no conhecimento algo como já conhecido e deixá-lo tal como está. Um saber desses, com o vaivém de palavras, não sai do lugar – sem saber como isso lhe sucede.

Enquanto o senso comum recorre ao sentimento, – seu oráculo interior – descarta quem não está de acordo com ele. Deve deixar claro que não tem mais nada a dizer a quem não encontra e não sente em si o mesmo; em outras palavras, calca aos pés a raiz da humanidade. Pois a natureza da humanidade é tender ao consenso com outros, e sua existência reside apenas na comunidade instituída das consciências. O anti-humano, o animalesco, consiste em ficar no estágio do sentimento, e em só poder comunicar-se através do sentimento.

Hegel – Fenomenologia do Espírito

A ordem é a alma das coisas

Avatar do autor julmar, 28.05.13

Um texto que achei interessante mas de que me esqueci de referenciar o autor e a obra. Aposto que é de Aristóteles. 

Se procurarmos o que é que conserva no seu ser o universo, juntamente com todas as coisas particulares, verificamos que não é senão a ordem, a qual é a disposição das coisas anteriores e posteriores, maiores e menores, semelhantes e dissemelhantes, consoante o lugar e o tempo, o número, as dimensões e o peso devido e conveniente a cada uma delas. Por isso, alguém disse, com elegância e verdade, que a ordem é a alma das coisas. Com efeito. Tudo aquilo que é ordenado, durante todo o tempo em que conserva a ordem, conserva o estado e a sua integridade; se se afasta da ordem, debilita-se, vacila, cambaleia e cai. O que é evidente por toda a espécie de exemplos tirados de toda a natureza e de toda a arte.

A inspiração de Maria - Afonso Leonardo

Avatar do autor julmar, 18.05.13

"A minha mulher disse-me: 'Ó meu caro – ela trata-me de outra forma – isto é com certeza influência de Nossa Senhora de Fátima"
Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva

Tenho de confessar que a minha admiração pelo nosso Presidente da República, Doutor Aníbal Cavaco Silva, professor de Finanças, não pára de aumentar. Felizmente, para os portugueses, num tempo difícil que vivemos, talvez a crise maior pela qual,este país de oito séculos de história, já passou, temos um presidente que representa o que de mais genuíno existe no povo português: a Fé, a Fé Cristã. Portugal não teria começado sem o Milagre de Ourique, não teria sido Império sem a fé - feita palavra e feita espada - e não teria sido a terra eleita por Deus para nos enviar a sua própria mãe - já há dois mil anos nos mandara o seu próprio filho para nos salvar - para acabar com o comunismo da face da terra, se não fossemos uma terra de crentes. Portugal é terra de Santa Maria.
Muitos historiadores e cientistas, afirmam, com razão, aquilo que racionalmente não podem saber - que o nascimento e expansão de Portugal é um milagre. Como muitos deles não têm fé, a afirmação que fazem é uma confissão da sua incapacidade em lhe encontrarem causas naturais. Bem nos disse Jesus na sua pregação que " os desígnios de Deus são insondáveis", mas também o sabemos que Ele nos fala por sinais que nos cabe interpretar, segundo a Fé.
Ora, mais uma vez Deus acaba de nos enviar um sinal que maçónicos, jacobinos, esquerdistas, comunistas conversos e todos os inimigos da Pátria Celeste, ridicularizam na sua insensatez. Não aceitam que Portugal é uma Terra Eleita por Deus para falar aos homens e deveriam saber que a nova potestade do Mal, a nuvem negra do mundo de hoje, dá pelo nome de Mercados Financeiros. E sabemos que Deus prefere sempre os simples aos poderosos - e tal como Jesus não preferiu o palácio dos Faraós, também agora, inspirou não a mulher do presidente Barack Obama dos Estados Unidos, mas elegeu Maria a mulher do Presidente Cavaco Silva porque Deus prefere os humildes: " pôs os olhos na humildade da sua serva".
Todos somos testemunhas da humildade e simplicidade do casal. Ele Professor de Finanças, abdicando de todo o saber que o título supõe, deixou que a Maria tratasse das acções do BPN, e supõe-se que, mesmo nos negócios da Nação, valoriza mais os conselhos da sua Maria do que os dos conselheiros de Estado. Ele não deseja mais do que uma modesta reforma, abdicando de bom grado do pagamento da sua função como chefe de Estado. Deixou que à sua sombra outros construíssem glória, poder e fortuna. Talvez a vida lhe tenha trocado as voltas e tivesse sido um bom guardador de vacas e de sonhos. Há nele algo da alma Franciscana achando que um naco de bolo-rei é um manjar de deuses e naquela alma mora um bucolismo que se traduz no olhar cândido, extasiado e contemplativo das vacas de ontem:
"Ontem eu reparava no sorriso das vacas, estavam olhando satisfeitíssimas para o pasto que começava a ficar verdejante".
Estivéssemos mais abertos à intervenção do divino, tivéssemos nós fé e teríamos uma hierofania, um novo santuário a partir do qual se combateria essa nova potestade do Mal, porque Deus está atento e não só há-de salvar Portugal como, através dele, a Terra Inteira.

Leituras de Maio - Alto Desempenho

Avatar do autor julmar, 15.05.13

Nalguns domínios da Educação, nomeadamente da Formação de Professores, até parece que se decretou a excelência universal, partindo de uma espécie de princípio que todos os professores são excelentes até prova em contrário. Com efeito, observando algumas das pautas de classificação de acções verifica-se  a totalidade numas a quase totalidade noutras de excelentes.

Como se a excelência não deixasse de o ser ao tornar-se vulgar.   

PARA UM DESEMPENHO EXCELENTE

1.     FAZ OS OUTROS SENTIREM-SE IMPORTANTES – MOSTRA APREÇO SINCERO E HONESTO SEMPRE QUE TIVERES OPORTUNIDADE

2.     NÃO CRITIQUES, NÃO CONDENES, NÃO TE QUEIXES

3.     TORNA A TUA CAUSA MAIOR QUE O TEU EGO

4.     TRABALHA PARA TER PROGRESSO, NÃO PERFEIÇÃO

5.     FOCA-TE NA SOLUÇÃO, NÃO NOS PROBLEMAS

6.     TRABALHA PARA TERES RESULTADOS

7.     SÊ DISCIPLINADO

8.     RECONHECE E ACEITA OS TEUS PONTOS FRACOS

9.     FAZ LISTAS E USA-AS CONSTANTEMENTE

10   MOSTRA SEMPRE HUMILDADE E GRATIDÃO

LEMBRA-TE

1.     QUE O SORRISO É UMA PODEROSA FERRAMENTE À TUA DISPOSIÇÃO

2.     QUE OUVIR E COMPREENDER O OUTRO É O PONTO DE PARTIDA PARA A COOPERAÇÃO

3.     QUE SÃO MAIS IMPORTANTES AS PERGUNTAS QUE FAZES QUE AS RESPOSTAS QUE DÁS

4.     QUE É MAIS EFICAZ FAZER PEDIDOS DO QUE DAR ORDENS

5.     QUE O EXEMPLO É SEMPRE A MELHOR LIÇÃO

(Adaptação de Zig Ziglar, Alto Desempenho)

«Minha Pátria é a Língua Portuguesa»

Avatar do autor julmar, 14.05.13

Não consigo ler Pessoa sem me perder. Se for poema é um a pedir outro. E se for prosa ... como ler um parágrafo sem querer passar ao seguinte?


 [ilustração: Alberto Cutileiro. Retrato de Pessoa no Martinho da Arcada. Ago. 1934.]


Escrever é usar as palavras com sensualidade

Gosto de dizer. Direi melhor: gosto de palavrar. As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sensualidades incorporadas. Talvez porque a sensualidade real não tem para mim interesse de nenhuma espécie - nem sequer mental ou de sonho -, transmudou-se-me o desejo para aquilo que em mim cria ritmos verbais, ou os escuta de outros. Estremeço se dizem bem. Tal página de Fialho, tal página de Chateaubriand, fazem formigar toda a minha vida em todas as veias, fazem-me raivar tremulamente quieto de um prazer inatingível que estou tendo. Tal página, até, de Vieira, na sua fria perfeição de engenharia sintáctica, me faz tremer como um ramo ao vento, num delírio passivo de coisa movida.

 

Como todos os grandes apaixonados, gosto da delícia da perda de mim, em que o gozo da entrega se sofre inteiramente. E, assim, muitas vezes, escrevo sem querer pensar, num devaneio externo, deixando que as palavras me façam festas, criança menina ao colo delas. São frases sem sentido, decorrendo mórbidas, numa fluidez de água sentida, esquecer-se de ribeiro em que as ondas se misturam e indefinem, tornando-se sempre outras, sucedendo a si mesmas. Assim as ideias, as imagens, trémulas de expressão, passam por mim em cortejos sonoros de sedas esbatidas, onde um luar de ideia bruxuleia, malhado e confuso.

 

Não choro por nada que a vida traga ou leve. Há porém páginas de prosa que me têm feito chorar. Lembro-me, como do que estou vendo, da noite em que, ainda criança, li pela primeira vez numa selecta o passo célebre de Vieira sobre o rei Salomão. «Fabricou Salomão um palácio...» E fui lendo, até ao fim, trémulo, confuso: depois rompi em lágrimas, felizes, como nenhuma felicidade real me fará chorar, como nenhuma tristeza da vida me fará imitar. Aquele movimento hierático da nossa clara língua majestosa, aquele exprimir das ideias nas palavras inevitáveis, correr de água porque há declive, aquele assombro vocálico em que os sons são cores ideais - tudo isso me toldou de instinto como uma grande emoção política. E, disse, chorei: hoje, relembrando, ainda choro. Não é - não - a saudade da infância de que não tenho saudades: é a saudade da emoção daquele momento, a mágoa de não poder já ler pela primeira vez aquela grande certeza sinfónica.

 

Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incomodassem pessoalmente. Mas odeio, com ódio verdadeiro, com o único ódio que sinto, não quem escreve mal português, não quem não sabe sintaxe, não quem escreve em ortografia simplificada, mas a página mal escrita, como pessoa própria, a sintaxe errada, como gente em que se bata, a ortografia sem ípsilon, como o escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse.

 

Sim, porque a ortografia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-ma do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha.

Bernardo Soares

 

Olhai os Lírios do Campo

Avatar do autor julmar, 14.05.13

Fotografia de Olívia Dias - Lírios no Castelo de Vilar Maior

Bem que Cristo podia ter escolhido o lugar do Castelo para a pregação das obras de Misericórdia. Até poderá estar arrependido, pois, a ser aqui, não teriam surgido os problemas que surgiram nas terras onde pregou. Ao feito não há remédio.

Mas teria gostado de o ver contemplar os lírios e de o ouvir assim:

  «Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há-de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro. Por isso vos digo: «Não vos preocupeis, quanto à vossa vida, com o que haveis de comer, nem, quanto ao vosso corpo, com o que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento e o corpo mais do que o vestuário? Olhai para as aves do céu: não semeiam nem ceifam nem recolhem em celeiros; o vosso Pai celeste as sustenta. Não valeis vós muito mais do que elas? Quem de entre vós, por mais que se preocupe, pode acrescentar um só côvado à sua estatura? E porque vos inquietais com o vestuário? Olhai como crescem os lírios do campo: não trabalham nem fiam; mas Eu vos digo: nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles. Se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao forno, não fará muito mais por vós, homens de pouca fé? Não vos inquieteis, dizendo:‘Que havemos de comer? Que havemos de beber? Que havemos de vestir?’. Os pagãos é que se preocupam com todas estas coisas. Bem sabe o vosso Pai celeste que precisais de tudo isso. Procurai primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais vos será dado por acréscimo. Portanto, não vos inquieteis com o dia de amanhã, porque o dia de amanhã tratará das suas inquietações. A cada dia basta o seu cuidado».

«Evangelho – Mt 6, 24-34

Eu estou no facebook, logo existo

Avatar do autor julmar, 13.05.13

A rua, o largo, a praça, o café e a taberna mudaram para o Facebook. É, por aí, que desfilam opiniões, sentimentos e paixões, críticas frontais e críticas sem rosto. Por aí, passam amigos que já eram nossos amigos e amigos do Facebook. Uma das vantagens ddesta rede social é que a paixão é mediada pela distância que, por si, já permite algum distanciamento e, também, o facto de a comunicação, sendo escrita, permitir uma filtragem de gestos, mímicas, posturas, roncos, rugidos e outros sons da nossa ancestralidade. 

A escrita permite uma filtragem da química corporal e do olhar do outro sobre nós. E cada um dos intervenientes procura fazer chegar aos outros a sua melhor imagem: a começar pela foto de perfil, os momentos bons da sua vida, através de fotos de sítios paradisíacos. Uma profusão enorme de imagens, convictos de que vale mais uma imagem do que cem palavras ou por incapacidade de expressão escrita. Porém, um mundo de imagens sem palavra é um mundo de surdos. 

Para muitos, o Facebook é a afirmação da sua existência: eu estou ou mostro-me, no Facebook, logo existo. Díríamos que a maneira como cada um se mostra nos ensina sobre o tipo de existência e, com tempo, será possível fazer a descrição das tipologias de tais modos de existência que vão da trivialidade trivial ao pensamento do pensamento. Não há sítio ou site mais democrático e aberto que o Facebook já que não depende do poder económico, do sexo, da religião, da idade, da posição social, da formação académica ou de qualquer situação particular. 

Dado que a realidade é feita de matéria (átomos) e comunicação (bytes) - será que há algo mais ou que estas duas coisas são uma só? - a cultura, com a chegada da Internet - está numa mudança altamente acelerada instituindo uma cultura muito diferente do que conhecemos até hoje. O limite é apenas o corpo.

O Facebook é também um lugar privilegiado do não pensamento porque é, sobretudo, o lugar do pensamento feito, nomeadamente, no concernente à ética, enquanto entedimento sobre o modo como devemos - ou sobretudo os outros devem - conduzir as nossas vidas, quase sempre num sentido eudemomista. O manancial de mensagens sobre como ser feliz é tal que, se a felicidade depender disso, só será infeliz quem achar que que a infelicidade é o caminho para a felicidade, como ouvi a ilustres pregadores.

Pensamento feito são máximas, provérbios, ditos e dixotes apropriados a mentes preguiçosas que os pesquisam no google, mais do que nos livros, quase sempre mais para darem um tiro nos outros do que para aplicarem a si mesmos. Tal como vão ao supermercado comprar bens alimentares, assim vão buscar o conhecimento pronto a consumir, ignorando que um conhecimento que não fazemos ou refazemos é um não conhecimento. 

Sirva de exemplo o cartaz ilustrativo com que iniciamos o post que, com frequência, passa no Facebook de onde o retirei. O pensamento feito é categórico, afirmativo, taxativo. Divide, como Bush, o mundo entre pessoas boas e más. No caso, divide as pessoas entre idiotas e inteligentes. Obviamente, que nós estamos do lado dos inteligentes. Os idiotas são sempre os outros. Mas, como quem faz esta afirmação não tem dúvidas sobre o que afirma acaba por cair na categoria dos idiotas. Dificilmente se pode ser tão idiota.

Sejam prudentes. Como diz a canção do Sérgio Godinho - Cuidado com as Imitações, quero dizer, com as citações.

Por aqui me fico. Estou em pulgas por ir ver os meus amigos do Facebook.

Burro

Avatar do autor julmar, 13.05.13

«A obstinação e o ardor opinativo são a prova mais segura da estupidez. Não há ninguém mais convicto, decidido, desdenhoso, meditativo,grave, sério do que o burro:» In Pequeno Vade-mecum, Montaigne

Pensar em Deus é Desobedecer a Deus

Avatar do autor julmar, 09.05.13

 Pensar em Deus é desobedecer a Deus, 
Porque Deus quis que o não conhecêssemos, 
Por isso se nos não mostrou... 
Sejamos simples e calmos, 
Como os regatos e as árvores, 
E Deus amar-nos-á fazendo de nós 
Belos como as árvores e os regatos, 
E dar-nos-á verdor na sua primavera, 
E um rio aonde ir ter quando acabemos! ... 

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema VI" 
Heterónimo de Fernando Pessoa

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