«O homem que se vende recebe sempre mais do que o que vale», de autor desconhecido
O jeito faz dos jeitosos um modo de ser, de estar, de fazer e de dizer que, não é defeito, é feitio indutor de tão grandes e maravilhosos eventos que os torna em entes admiráveis e paradigmáticos, sendo os mais notáveis arquétipos em que os pequenos jeitosos devem colocar os olhos se querem tornar-se ilustres jeitosos.
Perde-se esta cultura nos longínquos da nossa história. De algum modo, senão é congénita, com a sua força ter-se-á definitivamente inscrito no seu código genético. Assim, nasce-se com jeito para isto ou para aquilo, assim como uma espécie de vocação ou fatalidade. Por vezes, aparecem alguns tão destituídos que "não têm jeito para nada". Se fossemos de carácter tão incompassivo como o filho de Deus diríamos de tais espécimes que 'melhor seria não terem nascido', pelo menos nesta pátria onde quem tem um olho é rei. Ou poeta.
em grau tão elevado que conseguem atingir o que querem sem estudo, sem trabalho, pendurando-se aqui, encavalitando-se acolá, como cucos aproveitando-se do ninho dos outros, apanhando boleias dos distraídos.
Estes jeitosos tornam-se mestres na arte do jeito que lhes fica colado ao corpo e lhes talha a alma. Nos seus vários estilos sabem como pôr graxa, como puxar o brilho; mais do que de estratégia, vivem do estratagema; mais que de arte, vivem da artimanha;
Peritos na escolha do tipo de graxa e do modo de usar, lambem botas, serpenteiam ou rastejam para chegar ao pretendido. Desde pequenos que a sua brincadeira preferida é andar às cavalitas.
A sua cultura assenta na velha sabedoria dos provérbios populares, dos quais fazem uma cuidadosa seleção e que constitui o seu argumentário inexpugnável. Cultores da palavrinhas mansas, da palavrinha a sós, das palmadinhas nas costas, movem-se em salamaleques, vénias e mesuras. Entre eles disputam influências, favores, conezias e prebendas sempre com jeito, de uma forma redonda que é a sua geometria de eleição.
A política é o seu habitat natural porque os dispensa de viver do suor do seu rosto. São preguiçosos e indolentes, têm como regra a lei do menor esforço, mesmo que se traduza em asneira máxima. Basta-lhes sempre ter uma ideia geral sobre os assuntos para o que é suficiente a “conversa de café” ou equivalente. Isso não significa que não sejam especialistas nalgumas áreas, onde mais do que o saber lhes interessa a prática. Por exemplo são exímios culambistas ainda que a maior parte desconheça o significado.
O nosso Relvas, por exemplo, é um bom exemplo de que a teoria, o estudo é uma grande treta ou uma grande seca. Porque raio é que se há-de estar a estudar teorias se o que interessa á a prática?
E têm um gosto especial nas apresentações, nos cartões de recomendação … «diga-lhe que vai da parte do senhor engenheiro...» E tendo falado uma vez passam logo a ser amigos e, se extrovertidos, de piada brejeira fácil e com vocabulário atrevido passam à categoria de amigalhaços. E tratam por filho da puta todo o que não entrar no seu jogo de influências ou, de algum modo, perturbe a sua forma de ajeitar-se.
São dados ao sentimento, à compaixão, à piedade – traduzidas em diminutivos caritativos: dar uma mãozinha, um empurrãozinho, uma palavrinha quando as coisas correm a jeito; e à ira ruborizada no rosto quando algum filho da puta armou em sério e estraga o arranjinho.
Quanto ao olhar são congenitamente incapazes de olhar de frente – tudo o que é reto lhes é adverso, preferem o curvilíneo, os atalhos e as veredas aos caminhos.
Isto é que são de uma raça!