Relatório McKinsey
Mudar o ensino em menos de seis anos não é utopia
A boa educação não depende da cultura ou da riqueza. Lideres políticos fizeram a diferença em 20 regiões
KÁTIA CATULO
Qualquer sistema de ensino pode mudar e tornar se mais eficaz em seis ou menos anos. Esta é a conclusão do estudo «Como os Melhores Sistemas de Ensino continuam a Melhorar» divulgado esta semana pela consultora de gestão McKinsey que comprova que o que pesa na eficácia do sistema educativo não é a riqueza económica ou social de um país Os autores deste estudo analisaram 20 modelos de ensino no mundo e em diferentes estádios de desenvolvimento. Duas dezenas de sistemas estão organizados neste relatório em quatro grupos Os fracos os satisfatórios os bons e os excelentes Entre o Gana e a Arménia entre o Chile e a Polónia entre Hong Kong e Minas Gerais Brasil há muito pouco a unir cada um destes países ou regiões. Não é a riqueza o modelo político ou a geografia que contribuíram para que estejam hoje entre os que subiram o rendimento escolar a curto prazo
Em Long Beach Califórnia Estados Unidos seis anos foram suficientes para subir o desempenho dos alunos de Matemática dos quarto e quinto anos 50 e 75 respectivamente. Até os sistemas que partiram de patamares mais baixos como Madhya Pradesh Índia Minas Gerais Brasil e Western Cape África do Sul obtiveram melhorias expressivas nos níveis de alfabetização escrita e numérica num intervalo de dois a quatro anos
Em Minas Gerais por exemplo a percentagem de alunos com oito anos no nível recomendado de alfabetização subiu de 49 em 2006 para 86 em 2010
São só alguns casos que o relatório da McKinsey revela para demonstrar que as melhorias no ensino podem acontecer em todos os sistemas seja qual for a geografia a cultura ou o PIB per capita Os autores do estudo foram conhecer o que é que estes modelos têm em comum e porque é que resultaram.
A formação de professores e de directores escolares foi um passo decisivo que aconteceu em todos os modelos mas foram sobretudo os líderes políticos que
fizeram a diferença. Os governantes que iniciaram as reformas e a geração seguinte de políticos que se comprometeu em prosseguir essas mesmas remodelações são os grandes responsáveis pelas melhorias na educação conquistadas a médio prazo. Seguem-se as receitas para um ensino de qualidade em qualquer lugar do planeta.
01 O que é comum a todos os modelos
Há metodologias usadas na maioria dos sistemas independentemente da fase de desenvolvimento em que se encontram a formação de professores e de directores de escolas a avaliação interna e externa dos alunos o investimento na construção de bases de dados com todas as estatísticas sobre educação a revisão de normas e currículos ou as recompensas remuneratórias para os bons professores e gestores de escola são práticas que se estendem a todos os modelos estudados pela McKinsey. Embora as políticas sejam comuns a todos são aplicadas de forma diferente. A Arménia, por exemplo, está na fase de transição do satisfatório para o bom e recorreu a programas de formação de professores centralizados. Singapura por seu turno deixou essa tarefa a cargo dos professores que seleccionaram os conteúdos mais adaptados às suas necessidades
02 Centralizar ou responsabilizar
Nos sistemas de fraco ou satisfatório desempenho as práticas são disseminadas para escolas e professores através de um organismo central mas
nos modelos de alto rendimento escolar as políticas centralizadas já não funcionam. Nestes casos o avanço na educação decorre sobretudo da flexibilidade das políticas e da responsabilidade que se atribui aos professores para atingir as metas e cumprir as reformas Um terço dos sistemas educacionais que estão a transitar do bom para o excelente e dois terços dos modelos que estão a caminho do excelente descentralizaram as funções pedagógicas para escolas distritos ou regiões Mas para evitar que essa liberdade resulte em medidas dispersas há um órgão central que cria os mecanismos necessários para responsabilizar os professores pelo seu próprio desempenho e dos seus colegas.
03 Planos de carreira
Nos sistemas com bom ou excelente desempenho escolar os professores mais habilitados assumem a responsabilidade de ajudar os colegas em início de carreira a atingir as metas de ensino propostas Estes sistemas também estabelecem práticas de colaboração entre professores da mesma ou de diferentes escolas. Todos os professores do mesmo grupo disciplinar reúnem se para fazer o planeamento semanal de aulas. São obrigatórias também a observação de aulas entre colegas e o ensino em conjunto metodologias que servem para corrigir eventuais erros e aperfeiçoar a pedagogia A colaboração entre professores assume uma dupla ambição melhorar a prática de ensino e tornar os professores responsáveis uns pelos outros
04 Mesmo patamar, a mesma estratégia
Os sistemas que transitaram do bom para o excelente desempenho apostaram em estruturar a carreira docente definiram os requisitos para se ingressar na profissão estabeleceram as práticas e os planos de progressão na carreira com a mesma transparência que têm as carreiras de medicina ou de direito lê se no relatório Os sistemas a caminho do bom rendimento escolar procuraram sobretudo conhecer os níveis de aprendizagem dos alunos e organizar essa informação em base de dados. Ao mesmo tempo rentabilizaram as finanças do sector da educação mudaram a organização das escolas e alteraram os modelos pedagógicos.
05 Desencadeador de reformas
Uma crise socioeconómica um relatório crítico com grande impacto na opinião pública sobre o desempenho do sistema ou uma mudança de liderança são os três factores que desencadearam reformas na educação dos 20 países ou regiões que subiram o rendimento escolar. Em todos os sistemas estudados uma ou mais destas três circunstâncias foram responsáveis por gerar as condições que desencadearam mudanças nos modelos educacionais. Em 15 dos 20 sistemas analisados dois ou mais incidentes destes estiveram na origem das reformas. O factor mais comum identificado como gatilho da reforma é sem dúvida uma mudança de liderança conclui o estudo.
06 Liderança política
Todos os sistemas pela estudados McKinsey contavam com a presença e a energia de um novo líder político ou estratégico para impulsionar a reforma lê se no relatório. Os novos líderes estratégicos ministros ou secretários de Estado estavam presentes em todos os sistemas estudados e os novos líderes políticos primeiros ministros ou presidentes consoante o sistema político em metade dos modelos. A novidade porém não está nas metodologias inovadoras que os dirigentes políticos encontraram mas na coerência e na continuidade das políticas assumidas ao longo do tempo. A maioria dos 200 decisores políticos entrevistados assumiu também que em vez de tentar convencer a classe docente e os directores escolares a cumprirem as reformas enfatizou a exigência em cumprir as metas propostas.
07 Continuidade de liderança
A liderança não é fundamental só para desencadear a reforma mas principalmente para sustentá-la a médio prazo A longevidade das políticas é portanto condição essencial para o sucesso dos melhores modelos Regra geral os novos líderes estratégicos dos sistemas analisados ocupam o cargo por seis anos e os novos líderes políticos por sete anos esclarecem os autores do estudo. É nítido o contraste com os países de rendimentos instáveis na educação. O prazo médio para o cargo de superintendente das escolas distritais urbanas dos EUA é por exemplo de três anos em França os ministros da Educação cumprem um mandato médio de dois anos.
08 Formar a próxima geração de líderes
Nos sistemas em melhoria existe a preocupação activa de formar a geração seguinte de líderes assegurando uma transição tranquila da sua liderança além da continuidade a longo prazo dos objectivos de reforma Essa preocupação está na origem do sucesso alcançado por alguns dos sistemas estudados pela consultora McKinsey Arménia Western Cape África do Sul ou Lituânia são alguns exemplos apontados como casos que conseguiram garantir que a reforma prosseguisse apesar das mudanças cíclicas na liderança política. A estabilidade na direcção da reforma é fundamental para obter ganhos rápidos sobre o aproveitamento dos alunos.