Lendo «Os vendedores de pedras»
julmar, 19.06.08
Estou fascinado pela prosa de Agostinho Gomes: Pelo verbo enformado que sublima o viver simples dos rústicos camponeses e na captura dos gestos e modos lhes traduz tão profundamente as almas.
Semeia e cria…
Ele bem decorara o acerto do dito. E, mesmo que magra, ali estava a colheita: o vendedor de pedras, não ia só!...
Uns maltrapilhos, maltratados pela vida, arrastavam botas cambas, tamancos nas encoiras. Que querem?... Arrastavam passos gastos, ansiosos, também, de cova para desilusões. Erguiam o caixão devagarinho. Com brandura de gestos. Não foram magoar o magoado bastardo da vida. Eram gestos limpos. Espremidos de carnes enxutas. Abeberadas, no entanto, de um chorume que era de alma comovida. Lágrimas a havê-las, vinham não sei de onde. De um onde sem saber qual. Das entranhas do caixão?
As pegas deste eram de corda. Assim mesmo, de corda. Cortantes de mãos. Que o caixão do pobre, por necessidade de rima, é mesmo pobre: nem cruz, memso de empréstimo, por sobre a tampa. Nem asas de metal alugadas, também …