Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Badameco

Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

Badameco

Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

Portugalidade - Vasco Graça Moura

Avatar do autor julmar, 28.10.06

A escola que temos não exige a muitos jovens qualquer aproveitamento útil ou qualquer respeito dadisciplina. Passa o tempo a pôr-lhes pó de talco e a mudar-lhes as fraldas até aos 17 anos. Entretanto mostra-lhes com toda a solicitude que eles não precisam de aprender nada, enquanto a televisão e outros entretenimentos tratam de submetê-los a um processo contínuo de imbecilização.

Se, na adolescência, se habituam a drogar-se, a roubar, a agredir ou a cometer outros crimes, o sistema trataoscom a benignidade que a brandura dos nossos costumes considera adequadas à sua idade e lava-lhes ternurentamente o rabinho com água de colónia. Ficam cientes de que podem fazer tudo o que lhes der na real gana na mais gloriosa das impunidades. Não são enquadrados por autoridade de nenhuma espécie na família, nem na escola, nem na sociedade, e assim atingem a maioridade.Deixou de haver serviço militar obrigatório, o que também concorre para que cheguem à idade adulta sem qualquer espécie de aprendizagem disciplinada ou de noção cívica.Vão para a universidade mal sabendo ler e escrever e muitas vezes sem sequer conhecerem as quatro operações. Saem dela sem proveito palpável. Entretanto, habituam-se a passar a noite em discotecas e noutros proficientes locais de aquisiçãointerdisciplinar do conhecimento, até às cinco ou seis da manhã.

Como não aprenderam nada digno desse nome e não têm referências identitárias, nem capacidade deelaboração intelectual, nem competência profissional, a sua contribuição visível para o progresso do paísconsiste no suculento gáudio de colocarem Portugal no fim de todas as tabelas. Capricham em mostrar que o "bom selvagem" afinal existe e é português. A sua capacidade mais desenvolvida orienta-se para coisas como o Rock in Rio ou o futebol. Estas são as modalidades de participação colectiva ao seu alcance e não requerem grande esforço (do qual, aliás, estão dispensados com proficiência desde a instrução primária).

Contam com o extremoso apoio dos pais, absolutamente incapazes de se co-responsabilizarem por uma educação decente, mas sempre prontos a gritar aqui-d'el-rei! contra a escola, o Estado, as empresas, o gato do vizinho, seja o que for, em nome dos intangíveis rebentos.

Mas o futuro é risonho e é por tudo o que antecede que podemos compreender o insubstituível papel de duas figuras como José Mourinho e Luiz Felipe Scolari. Mourinho tem uma imagem de autoridade friamente exercida, de disciplina, de rigor, de exigência, de experiência, de racionalidade, de sentido do risco. Este conjunto de atributos faz ganhar jogos de futebol e forma um bloco duro e cristalino a enredomar a figura do treinador do Chelsea e o seu perfil decondottiere implacável, rápido e vitorioso. Aos portugueses não interessa a dureza do seu trabalho, mas o facto de "ser uma máquina" capaz de apostar e ganhar, como se jogasse à roleta russa. Scolari tem uma imagem de autoridade, mas temperada pela emoção, de eficácia, mas temperada pelonacional-porreirismo, de experiência, mas temperada pela capacidade de improviso, de exigência, mas temperada pela compreensão afável, de sentido do risco, mas temperado por um realismo muito terra-a-terra. É uma espécie de tio, de parente próximo que veio do Brasil e nos trata bem nas suas rábulas familiares, embora saiba o que quer nos seus objectivos profissionais. Ora, depois de uns séculos de vida ligada à terra e de mais uns séculos de vida ligada ao mar, chegou a fase de as novas gerações portuguesas viverem ligadas ao ar, não por via da aviação, claro está, mas porque é no ar mais poluído que trazem e utilizam a cabeça e é dele que colhem a identidade, a comprazer-se entre a irresponsabilidade e o espectáculo. E por isso mesmo, Mourinho e Scolari são os novos heróis emblemáticos da nacionalidade, os condutores de homens que arrostam com os grandes e terríficos perigos e praticam ou organizam as grandes façanhas do peito ilustre lusitano. São eles quem faz aquilo que se gosta de ver feito, desde que não se tenha de fazê-lo pessoalmente porque dá muito trabalho. Pensam pelo país, resolvem pelo país, actuam pelo país, ganham pelo país. Daí as explosões de regozijo, as multidões em delírio, as vivências mais profundas, insubordinadas e estridentes, as caras lambuzadas de tinta verde e vermelha dos jovens portugueses. Afinal foi só para o Carnaval que a escola os preparou.

Mas não para o dia seguinte.

Há teses que valem a pena

Avatar do autor julmar, 25.10.06

As licenciaturas estão cada vez mais desacreditadas. Há mestrados e teses de mestrado que valha-nos Deus. No meio disso tudo há ainda algumas pérolas. A tese do colega e amigo João Feijó encontra-se nestas, dentro do pouco que me foi dado ler. As frases de abertura são muito adequadas ao tema tratado: «Nada classifica melhor uma pessoa do que a forma como ela classifica os outros» Pierre Bourdieu (1979) «Quando o leão encontrar alguém que o ouça, a história deixará de ser escrita pelo caçador» Provérbio Queniano Nós, os Outros e a História, João Feijó

Engenheiros e Doutores

Avatar do autor julmar, 21.10.06

Uma das nossas marcas lusitanas é a doutorice. E com a facilidade que hoje em dia se tiram cursos "superiores" o número aumentou consideravelmente. Há anos promoveu-se a doutorice quando um qualquer ministro da educação se lembrou que indivíduos com o 5º ano do liceu apenas ou com mais dois anos de um cursi do magistério primário e outros equivalentes lhe bastaria um ano para se licenciarem o que significa ficarem doutores. Foram aos milhares que por esse país fora se licenciaram num ano sem precisarem sequer de deixar de trabalhar. Parece anedota mas não é. O Instituto Piaget foi, então, uma autêntica fábrica de doutores altamente qualificados, quero dizer, classificados. Com tais altas competências assim adquiridas houve ganhos incomparáveis: Para o país que melhorou consideravelmente as estatísticas no que respeita à % da população com estudos superiores; para os próprios doutores que ascenderam nas respectivas carreiras com salários muito superiores que lhes permitiu reformarem-se (sim porque uma boa parte deles se encontrava no fim da profissão) com confortáveis pensões e por a partir de então terem o não dispiciendo direito de serem tratados por Doutor. Isto que fica dito, para os mais distraídos, não é anedota. É mesmo assim e pode ser confirmado. O que já não tenho dados para confirmar são as notícias que li nos jornais, e aí a gente já sabe que tem de se pôr de pé atrás, foi que algumas Universidades (ou seriam Institutos? mas parece que estes acabaram, como acabaram os bacharéis) estavam a admitir muitos jovens que não tinham o 9º ano de escolaridade porque não havia alunos para fazer turmas. Ora, aí está uma boa maneira de resolver o problema dos alunos que não conseguem concluir a escolaridade obrigatória: matriculam-se na Universidade! Eu próprio fico um pouco confundido ao escrever isto porque como tenho um pouco a tendência de ficcionar fico com dificuldade em distinguir a ficção da realidade.

Mas ter um grau é importante e não o mencionar quando se tem constitui um insulto. Este é um dos menores que, por exemplo, o Dr (dizem que o conseguiu à rasca com um dézito) Alberto João Jardim usa quando as coisas não lhe correm de feição. Foi assim que, em tempos santanistas, se referiu ao Sr. Silva e agora se refere a esse Sr Sócrates. E na verdade o Dr Alberto João Jardim tem razão porque quando se retira o título fica apenas a pessoa como que despida e a nudez com que chegamos ao mundo é o que constitui a nossa natureza comum. E depois um título não tem que ter conteúdo funcional como se prova  com o caso do sr Major Valentim que é um civil mas que ostenta garbosamente o título de Major. Nem é imaginável que alguém possa dizer, referir, chamar sr Valentim. Só por falta de respeito. E se a ética civil é respeitável, da ética militar nem se fala. Porque o tempo em que «ou há moral ou comem todos» já passou. Agora há uma ética para cada profissão, para cada instituição, uma ética para cada regime: Uma ética desportiva, uma ética médica, uma ética republicana, uma ética monárquica, uma ética partidária. E como o senhor Valentim, perdão, Major Valentim sabe existe uma ética autárcica que Kant teorizou na Metafísica dos Costumes.

RanKing de Escolas - Afonso Leonardo

Avatar do autor julmar, 21.10.06

A senhora Ministra da Educação insurgiu-se hoje contra a publicação destes rankings que considera demasiado pobres para traduzirem a imagem das escolas. E tem toda a razão. Mas devia, então, procurar outras avaliações que dessem conta da realidade das escolas e não o faz. Deste modo, é preferível haver alguma informação do que não haver informação nenhuma. Esta pobre informação também, apesar de pobre, é útil para as escolas. E, quando ano após ano as escolas continuam com péssimos resultados é absolutamente lamentável que nada se faça. Veja-se o caso da Escola de Vilar Formoso que aparece como a última do ranking (ou da Pampilhosa da Serra que não está melhor). A escola até tem óptimas instalações, novas e com muito espaço. Há vários anos seguidos que tem péssimas notas nos exames o que quer dizer que os alunos não fazem as aprendizagens que deviam fazer. Hoje uma aluna queixava-se que por exemplo todos os alunos do Ensino Secundário eram obrigados a ir para a àrea de Estudos Científicos porque não têm outra opção. Provavelmente grande parte dos professores que lá leccionam são professores novos, com pouca experiência, que estão por ali desterrados. Provavelmente o ministério, apesar dos maus resultados nunca falou com a gestão para analisar o que se passa. E por este caminho no próximo ano a escola será falado pelos mesmos motivos porque nada se faz e estas coisas não mudam por si. Os que lá trabalham Comissão Executiva, professores e funcionários nada farão para mudar porque independentente dos resultados dos alunos receberão pontualmente os seus ordenados no fim do mês. Entretanto os alunos comprometerão os seus futuros pelas aprendizagens que não fazem.

Estes rankings são avaliações pobres mas sem elas todas estas situções gravíssimas continuariam escondidas. Isto só pode acontecer porque nem há avaliação dos professores nem há avaliação das escolas e por isso não há consequências, nada se faz para mudar.

Por isso, tinha razão Amora da Silva num post aqui colocado quando acusava os sindicatos de nada fazerem pelos professores que são colocadas em terras como Vilar Formoso. Que motivação hão-de ter para trabalhar com os seus alunos se o ordenado mal dá para pagar pensão e deslocações, não falando já do afastamento da família? E a Ministra da Educação tem que considerar que estas escolas não podem ser tratadas como as outras escolas e aplicar-lhes a mesma lei. Não pode ser a mesma lei para a abertura de cursos, por exemplo, em Lisboa  e em Vilar Formoso. É preciso dar condições às escolas e exigir resultados.

Prós e contras, Visto por Pacheco Pereira - Amora da Silva

Avatar do autor julmar, 17.10.06

Pacheco Pereira julga-se o único homem esclarecido neste país e tem um ódio custosamente disfarçado a todos os que possam fazer-lhe concorrência. Por isso ele elogia a simplicidade dos simples, dos párocos de aldeia e dos «homens rudes e tímidos». E com o seu olhar preconceituoso consegue ver o que não existe, nomeadamente a  «enorme delicadeza» de Fernando Ruas que gosta de atirar pedras mas não gosta  de ser apedrejado. Foi patética a reacção que teve frente ao ministro. De resto, o que se viu é que os autarcas não leêm, não estudam e não trabalham ao contrário do ministro que sabia os números e sabia os factos. O sr Ruas se algum dom tem é no uso da demagogia e de uma retórica pobre, vazia e feia. Os autarcas passaram para o público uma imagem muito negativa.

«O Prós e Contras de ontem foi um programa de televisão notável, sobre o qual se poderia escrever um livro. Um livro sobre Portugal.

Breves notas sobre o debate que comentarei mais em detalhe noutro sítio: Por estranho que possa parecer, fruto também dos nossos preconceitos, os autarcas saíram-se muito melhor do que o Ministro António Costa, apoiado por Saldanha Sanches. Muito, muito melhor. A começar pelo que não se esperava que acontecesse: mostraram um grande domínio da realidade, um muito bom conhecimento dos mecanismos perversos da nova legislação, uma grande capacidade argumentativa e foram ... muito menos demagógicos do que o Ministro. António Costa foi de uma agressividade malcriada, roçando o insulto, autoritário e demagógico até ao limite. Fernando Ruas comportou-se com uma enorme delicadeza de trato face aos golpes baixos do Ministro, aos quais não era alheio um desprezo intelectual pelos seus interlocutores. E de "classe", diriam os marxistas, face a um Portugal a que ele claramente se acha superior. Por muito sofisticado que queira ser esqueceu-se de uma regra que funciona magnificamente em televisão: aqueles homens alguns rudes, outros tímidos, transmitiram muito melhor um sentimento de "dedicação" ao seu "povo" do que o governante, que se ria deles.» In abrupto

Amora da Silva - A propósito da manifestação dos professores

Avatar do autor julmar, 08.10.06

Ontem na SIC notícias estava eufórico o dirigente sindical Mário Nogueira com a enorme manifestação que os professores levaram a cabo no 5 de Outubro em Lisboa.

A mim chamou-me em especial à atenção o raciocínio levado a cabo pelo sindicalista para demonstrar que os resultados dos alunos não dependem do trabalho e da competência dos professores. Em resumo, diz: «A Escola Infanta D. Maria de Coimbra está considerada uma das melhores escolas, em termos de resultados, em todo o país. Com a escola de Pampilhosa, pertencente também ao distrito de Coimbra, acontece o inverso. Se trocássemos o corpo docente os resultados das referidas escolas não se alterariam».

Ora bem, vistas as coisas desta maneira não há razão para avaliar os professores porque os resultados não dependem em nada do seu mérito, sendo indiferente que sejam doutores, licenciados ou bacharéis, que sejam assíduos ou faltosos, que façam muita formação ou não façam formação nenhuma. Só lhe faltou concluir que os professores têm tanta influência nos resultados dos alunos como os meteorologistas no estado do tempo. Esqueceu-se o sindicalista de referir que não são apenas as famílias dos alunos que são diferentes. Esqueceu-se de referir que os professores que estão em Pampilhosa, estão de passagem, que têm menos experiência, que ganham menos, que a sua estadia é forçada, que muitos deles estão separados da sua família ou fazem diariamente longo e penoso trajecto. Não ocorreu ao sindicalista defender estes professores e como estes todos os que só encontram emprego em zonas do país económica, social e culturalmente desfavorecidas. Não ocorreu aos sindicatos que os professores em determinadas zonas pudessem ter compensações (monetárias; subsídio de renda de casa mesmo que não sejam como as dos juízes; bonificação de tempo de serviço). Sobre isso no estatuto em negociação nem uma palavra. Para manter a classe unida é preciso pedir o mesmo para todos.

Humor na paróquia

Avatar do autor julmar, 05.10.06

Todos o sabemos: o humor português reduz-se quase todo às anedotas contadas e recontadas mil e uma vez. O E-mail enche-se desse humor bem pouco apreciável. Desta vez não resisto a editar parte de um que me enviaram. Trata-se de avisos do padre aos seus paroquianos.

  1. Para quem tem filhos e não o saiba, temos um espaço preparado para as crianças.
  2. O custo da participação na reunião sobre “Oração e jejum”, inclui as refeições.
  3. Sexta-feira à tarde, as crianças da catequese, representarão Hamelet’ de Shakespeare no salão paroquial. A comunidade está convidada a participar nesta tragédia.
  4. Estimadas paroquianas: não esqueçais a venda de beneficiência! É uma boa altura para vos livrardes das coisas inúteis que tendes em casa. Trazei os vossos maridos!
  5. Tema da catequese de hoje: «Jesus caminhando sobre as águas». Tema da catequese de amanhã: «À procura de Jesus»