O universo é feito essencialmente
de coisa nenhuma
Intervalos, distância, buracos
porosidade etérea.
Espaço vazio em suma
O resto, é a matéria.
Daí, que este arrepio,
este chamá-lo e tê-lo, erguê-lo e
defrontá-lo,
esta frente de nada aberta no vazio, deve ser um intervalo.
Com o cabrão do João Ferreira, com um dedo do Luís Filipe Vieira, com a mão do Paços de Ferreira, perdoai, Senhor, os filhos da puta que roubam
(retirado do Berra Boi)
Aznar e Pacheco Pereira são os últimos a defender que invadir e ocupar o Iraque foram uma boa decisão.
Castells, em «A Galáxia Internet» dedica um capítulo à info-exclusão, uma das consequências mais importantes da nova tecnologia.
«Nas sociedades avançadas, as escolas estão a ligar-se rapidamente à Internet. Nos EUA, a percentagem de escolas públicas ligadas cresceu de 35% em 1994, para 95% em 1999, e até 100% em 2001».
No entanto, adverte para o facto de que a eficiência da tecnologia educativa está dependente da eficiência dos professores que a utilizam. E, mais ainda, para o facto de que a aprendizagem baseada na Internet não depende unicamente da perícia tecnológica mas de um novo tipo de pedagogia necessária para trabalhar na Internet. Como afirma:«O fundamental é trocar o conceito de aprender pelo de aprender a aprender, já que a maior parte da informação se encontra on-line, e do que realmente se necessita é de habilidade para decidir o que queremos procurar, como obtê-lo, como processá-lo e como utilizá-lo para a tarefa que despoletou a procura dessa informação».
Porque acho que a Internet está a mudar o mundo quis ler um pouco sobre o assunto e escolhi «A galáxia Internet, reflexões sobre Internet, sociedade e negócios» de um conceituado sociólogo actual Manuel Castells, edição da Calouste Gulbenkian.
O que me surperende em primeiro lugar é a velocidade que não deixa de ser uma das características fundamentais das sociedades modernas e que a Internet encarna de modo quase absoluto ao mesmo tempo que quase tem o dom da ubiquidade e da instantaneidade: está lá tudo de modo instantâneo. Dez anos na vida da humanidade não é nada. Mas foi em 1995 que a Internet começou tal como a conhecemos. Dez anos apenas. Aumenta exponencialmente o desenvolvimento desigual cavando um fosso abissal entre ricos e pobres, quer se trate de indivíduos quer de países. E mais: não deixa alternativa a outros modelos de desenvolvimento. E faz cumprir a palavra do Evangelho: «Aos que muito têm mais lhes será dado e aos que pouco têm até esse pouco lhes será tirado»
«A cultura da Internet é uma cultura construída sobre a crença tecnocrática no progresso humano através da tecnologia, praticada por comunidades de hackers que prosperam num ambiente de criatividade tecnológica livre e aberta, assente em redes virtuais, dedicadas a reinventar a sociedade, e materializada por empreendedores capitalistas na maneira como a nova economia opera».
E coitados dos info-excluídos: «A info-exclusão fundamental não se mede pelo número de ligações à Internet, mas sim pelas consequências que tanto a ligação como a falta de ligação comportam, porque a Internet não é apenas uma tecnologia: é o instrumento tecnológico e a forma organizativa que distribui o poder da informação, a geração de conhecimentos e a capacidade de ligar-se em rede em qualquer âmbito da actividade humana (...)
O desenvolvimento sem Internet seria equivalente à industrialização sem electicidade durante a era industrial. É devido a isto que a afirmação tantas vezes ouvida relativamente à necessidade de começar 'pelos problemas reais do Terceiro Mundo', ou seja, a saúde, a educação, a água, a electricidade e outras necessidades, antes de se pensar no desenvolvimento da Internet, revela um profundo desconhecimento que realmente importam hoje em dia».
E Castells termina de uma forma pouca tranquila para os que gostariam apenas de viver a vida: «Imagino que alguém poderia dizer:' Porque é que não me deixa em paz? Eu não quero saber nada da sua Internet, da sua civilização tecnológica, da sua sociedade em rede! A única coisa que quero é viver a minha vida!' Pois bem, se esse for o seu caso, tenho más notícias para si: mesmo que você não se relacione com as redes, as redes vão-se relacionar consigo. Enquanto quiser continuar a viver em sociedade e neste lugar, terá que lidar com a sociedade em rede. Porque vivemos na Galáxia Internet»
Como dizia o poeta: Navegar é preciso!
Se me pedissem para riscar uma palavra do dicionário escolheria a expressão bom senso. Por causa da sua adulteração. É com essa expressão que abre o Discurso do Método de Descartes, dizendo-nos em que consiste. Hoje em dia sempre que não se trabalhou o suficiente para ter ideias claras e distintas, sempre que não se sabe como actuar, apela-se inevitavelmente ao bom senso. Mais a mais, o bom senso assim prodigamente recomendado varia tanto como os interesses de quem o recomenda.
Nova corrida, nova viagem. Desta vez iniciada com comida - um excelente arroz à valenciana um vinho tinto, honesto - e discursos vários. E com o poema que se segue. Por mim há 33 anos que rolo a minha pedra até ao cume da montanha. Chegará o dia em que ficará no sopé.
SÍSIFO
Recomeça…
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcanses
Não descanses.
E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar
E vendo,
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças
Miguel Torga
«É nesse ponto que o estudo fenomenológico vai revelar a sua eficácia. Que nos aconselha a atitude fenomenológica? Pede para instituir em nós um orgulho de leitura que nos dará a ilusão de participar no próprio trabalho do escritor. Tal atitude não pode ser tomada na primeira leitura. A primeira leitura é feita com excessiva passividade. O leitor é ainda um pouco criança, uma criança que a leitura distrai. Mas todo bom livro, assim que terminado deve ser relido imediatamente. Após o esboço que é a primeira leitura, vem a obra de leitura. É preciso então, conhecer o problema do autor. A segunda leitura, a terceira, etc., vão nos ensinando pouco a pouco a solução desse problema. Insensivelmente, temos a ilusão que o problema e a solução são nossos. Essa nuance psicológica: ‘Eu é que devia ter escrito isso’, transforma-nos em fenomenólogos da leitura. Enquanto não chegarmos a essa nuance, continuaremos sendo psicólogos ou psicanalistas»
A Poética do Espaço, Gaston BachelardÉ preciso não perder a memória. Foi há 33 anos que Pinochet levou a cabo um golpe de Estado que levou ao assassínio de salvador Allende e a uma longa e sangrenta ditadura sob a protecção dos Estados Unidos. Chove em Santiago é o filme que nos retrata o acontecimento.
A herança
Assim Nixon comanda com napalm,
assim devasta raças e nações,
assim governa o triste Tio Sam:
com assassinos em seus aviões
ou com dólares verdes que reparte
entre politiqueiros e ladrões.
Chile, te colocou a geografia
entre o oceano e a primavera,
entre a neve e a soberania
e tem custado o sangue da gente
lutar pelo decoro. E a alegria
era delito em tempo precedente.
Recordam dos massacres miseráveis?
deixaram-nos a pátria malferida
a golpes de correntes e de sabres!
Pablo Neruda
A mim também me encantam as palavras, de um modo especial, quando as consigo encontrar na sua nascente. Ou melhor, quando, a partir do rasto, consigo encontrá-las in principio. Gosto delas, quando jogadas nada dizem; gosto delas quando como espadas castigam a impiedade; gosto delas quando do púlpito sagrado amolecem o coração; gosto delas quando como o rugir do vento o marulhar das ondas me afagam os ouvidos; gosto delas quando simples, certas, rigorosas me desenham o mapa do pensamento.
«As palavras - imagino isso frequentemente - são casinhas com porão e sotão. O sentido comum resude no rés-do-chão, sempre pronto para o co'comércio 'exterior', no mesmo nível de outrem, desse transeunte que nunca é um sonhador. Subir a escada na casa da palavra é, de degrau em degrau, abstrair. Descer ao porão é sonhar, é perder-se nos distantes corredores de uma etimologia incerta, é procurar tesouros inencontráveis. Subir e descer nas próprias palavras é a vida do poeta. Subir muito alto, descer muito baixo é permitido ao poeta que une o terrestre e o aéreo. Só o filósofo será condenado por seus pares a viver sempre no rés-do chão?»
A obra "A poética do Espaço" de Gaston Bachelard devia ser de leitura obrigatória (eu que sou contra a obrigação de ler) para todods os arquitectos. Certamente as nossas casas, as nossas ruas, as nossas cidades seriam bem diferentes:
«Que demais ao afirmar que um ângulo é frio e uma curva é quente? Que a curva nos acolhe e que o ângulo muito agudo nos expulsa? Que o ângulo é masculino e a curva feminina? Uma pitada de valor muda tudo. A graça de uma curva é um convite para habitar. Não se pode fugir dela sem esperança de voltar. A curva tem poderes de ninho; é um apelo à posse.É um canto curvo. É uma geometria habitada ... Só o sonhador que se arredonda a contemplar anéis conhece essas alegrias simples do repouso desenhado.»
Retirado de 'O gato Fedorento'
Amaldiçoado seja o palerma que anda entretido a piratear o Abrupto – ou, se a maleita do blogue é devida a erro informático, maldito seja então esse amontoado defeituoso de zeros e uns. Que arda no Inferno a besta – humana ou cibernética – que ofereceu ao Pacheco Pereira a sua última glória: o martírio. Alguém quer calar o Pacheco Pereira. Porquê? Ninguém sabe. O Pacheco Pereira incomoda. Quem? Ninguém diz. Mas o bravo Pacheco Pereira persistiu, agarrado ao leme do blogue, e depois de tremer três vezes escreveu este post veemente. Veementemente escrito a negrito, para percebermos que o autor vocifera, e sublinhado a amarelo veementemente, para percebermos que o autor investe. Sobre quem? Ninguém percebe. Mas o leitor que não esteja preparado para tanta veemência em tão poucas linhas não deixará de se comover. Trata-se de um pequeno mas lancinante grito de insurreição em que a preposição “desde” (a mais insurrecta das preposições) é protagonista. “Desde o momento em que não sei quê”, principia Pacheco Pereira. Mas “desde o início da tarde que não sei que mais”, prossegue depois. Pelo meio recebeu mensagens de conforto, o que aproveita para agradecer “desde já”. No fim, a promessa que nenhum homem decente conseguirá ler sem que os olhos se lhe encham de água: “podem ter a certeza de que aconteça o que acontecer o Abrupto continuará. Não será por esta via que acabam com ele.” “Acabam”, diz ali. O sujeito permanece indeterminado, mas agora temos um plural. Eles. Ah, perniciosa matilha. Quem serão? Os comunistas, os socialistas, os próprios sociais-democratas? Os jornalistas, os informáticos, os benfiquistas? Os bombeiros, os travestis, os profissionais do sector dos lacticínios? Ninguém arrisca um palpite. E, de facto, que se saiba, o blog prossegue como dantes, de modo que não chegamos a perceber se é a mordaça que é reles e barata ou se é a boca do censurado que de modo nenhum se deixa amordaçar, tão forte é a verdade das suas palavras. Também pouco importa, que o mal está feito. Apetece sair para a rua e escrever nas paredes “Ninguém há-de calar a voz do Pacheco Pereira”. Perder o acesso ao Abrupto seria, para nós, pecadores do século XXI, perder o contacto com a santidade. Porque o Pacheco Pereira é uma espécie de Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência, mas de âmbito mais alargado: observa todos os males do Mundo. E, assim como não há toxicodependentes no Observatório Europeu, também não há mal do Mundo que toque, sequer de raspão, em Pacheco Pereira. Há males nos blogues – mas não no de Pacheco Pereira. Há males na política – mas não na que Pacheco Pereira faz. Há males nos jornais – mas não nas páginas em que Pacheco Pereira escreve. Muito santo tem um homem de ser para passar impoluto num mundo tão indecente. E, no entanto, abre-se o blog do Pacheco Pereira e fica-se com o computador a cheirar a éter. O Pacheco Pereira é um desses semideuses de que fala o Álvaro de Campos no “Poema em Linha Recta”. Nunca levou porrada, nunca foi ridículo, nunca fez vergonhas financeiras. O Pacheco Pereira não se espanta, não se aleija, não tropeça, não duvida, não hesita, não ri. O Pacheco Pereira não faz um gesto que não o enobreça, não tem um prazer que não o edifique, não cede a um vício que não seja, vendo bem, uma virtude.
O Pacheco Pereira nunca escreve com as mãos sujas.
O Pacheco Pereira é um homem carregado de sentido.
Eu gostaria de adquirir uma viatura em segunda mão ao Pacheco Pereira.
O Pacheco Pereira cheira magnificamente da boca.
O Pacheco Pereira nu é belíssimo.
O Pacheco Pereira é de tal forma superlativo que já merecia ser elogiado no Abrupto pelo Pacheco Pereira.
O Pacheco Pereira publica opiniões de leitores: uns gostam imenso do que o Pacheco Pereira escreve; outros gostam ainda um pouco mais.
O Pacheco Pereira propõe discussões que normalmente envolvem a elaboração de listas. E os leitores discutem e elaboram.
De manhã, à hora a que a generalidade dos homens está a fazer a barba, o Pacheco Pereira está a pendurar poemas no blogue. E pendura-os com a mesma burocracia nos gestos com que os outros homens fazem a barba. Os homens não fazem comentários à barba e o Pacheco Pereira também não comenta os poemas. Os homens não se emocionam com a cara escanhoada e o Pacheco Pereira também não se emociona com os versos. Deus livre o Pacheco Pereira de ser tomado por uma das emoções humanas. O Pacheco Pereira exibe poemas como aqueles senhores, na rua, exibem os genitais. Abre a gabardina e mostra um soneto. Baixa as calças e revela uma ode.
Os poemas são escolhidos pelo Pacheco Pereira, mas há quem diga que podiam ser escolhidos por uma máquina, sem diferenças no resultado final. Sinceramente, duvido. Não creio que a máquina conseguisse escolhê-los tão automaticamente. RAP
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