Já satura ouvir falar do insucesso dos alunos, em geral, e do insucesso na disciplina em matemática, em particular. Já houve não sei quantas comissões, grupos de trabalho, simpósios, jornadas, seminários, teses de mestrado, quiça de doutoramento. Não faltam diagnósticos e terapêuticas também não. Já uma vez escrevi que o insucesso real não é maior em matemática que em outras áreas. Acontece que em matemática pela natureza da disciplina o insucesso não é camuflável . Das múltiplas causas aduzidas para o insucesso raramente o é a questão cultural ou é-o de uma forma suplementar.
Ora, bastará estar atento a todos os pronunciamentos sobre o assunto para vermos o ponto essencial da questão. Ainda hoje num dos canais televisivos toda a tónica foi colocada no gostar. Aí bate o ponto. E este ponto é o princípio, implícito ou explícito, de que não pode haver aprendizagem se não houver gosto. Aplica-se à matemática o princípio que rege hoje a nossa sociedade: o prazer. Não devemos comer do que não gostamos, não devemos ter uma profissão de que não gostamos, não devemos estar com uma mulher de que não gostamos, não devemos ter os pais ou os sogros em casa porque dão trabalho, não devemos ler um livro porque há coisas bem melhores. O mundo está todo organizado para nos tirar todas as chatices e para nos proporcionar todo o conforto. Ainda não se consegiu que se possa aprender matemática ( e outras matérias) como quem vai ao supermercado e aos shopings e se satisfazem outros desejos. Digo ainda. Começa a haver missionários das novas tecnologias que já tomaram assento no Ministério da Educação que dão pelo nome de Equipa de Missão Computadores, Redes e Internet na Escola e prometem que com tais máquinas tudo vai mudar . As máquinas de calcular não melhoraram o cálculo dos alunos - atrevo-me a dizer que o pioraram. Com a ilusão das TIC há-de acontecer o mesmo. Por que felizmente o conhecimento ainda é um bem que cada um adquire com esforço e trabalho. Felizes dos que entenderem que este é o único caminho que nos conduz ao saber e ao sabor, isto é, ao bom gosto.
Em resumo, o dito insucesso é uma questão de clima. Como tal não o podemos mudar de um dia para o outro. Portanto, quem quiser boas culturas terá, provavelmente, de construir estufas e encontar outros meios que mitiguem as condições climáticas. As escolas ( e as famílias que entenderem isto) poderão construir-se como lugares especiais donde os factores estiolantes e deletérios estejam ausentes.