Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Badameco

Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

Badameco

Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

O bom senso como lugar da preguiça

Avatar do autor julmar, 12.12.13

Assim começa o livro que não me canso de revisitar:«O bom senso é a coisa do mundo melhor partilhada, pois cada qual pensa estar tão bem provido dele, que mesmo os que são mais difíceis de contentar em qualquer outra coisa, não costumam desejar tê-lo mais do que têm». Trata-se do Discurso do Método de R. Descartes e, acho tão revolucionária esta frase (e o livro) que, julgo que com ela, depois da pretensão das religiões nos irmanarem a todos pela fé num Deus, nos irmana através de uma racionalidade universal. Esse poder de discernir é igual em todos os homens, de onde, considera Descartes, a diversidade de opiniões não deriva de uns serem mais racionais do que os outros mas de seguirem caminhos diferentes ou de não consisderarem as mesmas coisas. «Pois não é suficiente ter o espírito bom, o mais importante é aplicá-lo bem»

E aqui é que, como diz o outro (grande sábio esse outro), a porca torce o rabo. 

É sobretudo na condução da vida prática como na administração, na gestão, na educaçã, na política que os intervenientes recorrem à expressão: «o que é preciso é bom senso», querendo com isto dizer que nada mais é preciso. Ora, ter bom senso é ter capacidade de discernir e de escolher ... mas, isso todos temos. Porém,  para o aplicar bem é preciso estudo e trabalho, é preciso colher informação, organizá-la, elaborá-la. Por isso, quando ouço um gestor, um político dizer que o que é preciso é bom senso, dou como adquirido que o trabalho que devia fazer o não fez. O bom senso, como o improviso ou o preconceito, são lugares privilegiados da preguiça. O que me suscitou esta reflexão foi o uso recente da expressão ao ministro da educação Nuno Crato.