O (en)canto da Filosofia
julmar, 09.10.13
Saudades do tempo em que, além de filósofo, era professor de filosofia. O que eu mais queria era que aprendessem a se encantar. Sim, é importante aprenderem a raciocinar, a argumentar, a criticar, a pensar. Mas de que serve tudo isso se houver indiferença no olhar? Que importa isso se não cruzarem o seu olhar com o olhar dos outros, se não aprenderem que toda a filosofia está no olhar: nos olhos que olham, nos olhados que os olhos olham ... e no modo de olhar. Porque sem olhos não há luz, sem luz não há imagem, sem imagem não há espelho e sem espelho não há especulação e sem especulação
não há interrogação e sem interrogação não há humanidade e sem humanidade não há compaixão. E a compaixão é a única ética por que vale a pena lutar, como nos ensinou Shopenhauer:
Neminen laede, imo omines, quantum potes, iuva! ( Não faças mal a ninguém, mas antes ajuda a todos que puderes!)
E é com esses olhos uns
Que eu vejo no mundo escolhos
Onde outros com outros olhos,
Não vêem escolhos nenhuns.
Quem diz escolhos diz flores.
De tudo o mesmo se diz.
Onde uns vêem luto e dores
Uns outros descobrem cores
Do mais formoso matiz.
Nas ruas ou nas estradas
Onde passa tanta gente,
Uns vêem pedras pisadas,
Mas outros, gnomos e fadas
Num halo resplandecente.
Inútil seguir vizinhos,
Querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos.
Onde Sancho vê moinhos
D. Quixote vê gigantes.
Vê moinhos? São moinhos.
Vê gigantes? São gigantes.