“Tenho saudade!” - Paulo Themudo
julmar, 12.09.13
Tenho sentimentos escondidos na boca que chora, carente de uma lágrima de Outono que despe o corpo da folha.
Este cinza que os dedos transportam para a folha pálida de papel carregam nas sombras o desiludido de um olhar e, queda-se lentamente sobre o precipício do corpo afogado agora nas ruas virgens onde moram os sossegos imitando as mãos surdas de um grito das palavras.
Tenho um abraço pendurado no roupeiro do quarto da alma e um beijo a decorar o espelho para onde os olhos se entornam pálidos.
Não imagino o que seria do mundo sem boca para gritar...
Lá atrás, no jardim dos sonhos, morre todos os dias uma sombra do meu passado, o tempo ocupa-se de repousar sem aviso na roseira vermelha onde o beijo há-de nascer.
Tenho os ouvidos mergulhados no céu e as mãos a nadar os segundos do tempo…
O corpo é sombra levianamente deitada sobre a estátua de pedra de uma musa, silêncio…
Abraçado ao nu pálido das virgens, assustado, sou a cidade em cinzas, o corpo mutilado, agora que a ilusão embarca na boca de mar o sal das lágrimas que me gritam a existência !
Tenho sentimentos escondidos na boca escura, o pêndulo do tempo magoa os olhos gastos, sou a folha de papel que bebe das palavras procurando nomes…
Tenho um beijo assustado nos labirintos do corpo, palavras a mais no verso, e boca carente de um beijo que logo se ausenta e adormece.
Tenho a viagem pendurada nas paredes do quarto abraçada ao roupeiro onde repousa a alma.
Tenho sentimentos que me procuram saudosos débilmente inclinados sobre a boca que chora, sobre a folha de papel onde se contemplam as palavras que nao foram ditas.
Tenho saudade!
Paulo Themudo